O golpe e o sapo na panela. Por Moisés Mendes

Atualizado em 3 de agosto de 2022 às 6:45
Bolsonaro com militares
Presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia do Dia do Soldado em Brasília. Foto: REUTERS/Adriano Machado

Por Moisés Mendes

Uma hipótese considerada absurda até pouco tempo atrás começa a prosperar como a mais nova controvérsia.

É a de que o golpe, que pode ter muitas feições, se deixar de ser blefe, tem chance de ser assimilado pelos brasileiros.

Como talvez não venha a ser um golpe clássico, a população se acostumaria logo à nova situação criada por Bolsonaro.

É mais ou menos como a história aquela do sapo que vai sendo cozido na panela, enquanto a temperatura da água aumenta lentamente e ele não reage até ser queimado vivo.

Bolsonaro aplicaria um golpe em que as Forças Armadas entrariam como apaziguadoras de conflitos, depois de criar situações que levariam a atos violentos e esculhambação.

É a teoria do caos planejado como acionador do golpe. Cria-se uma situação de bagunça, fomentada pelo fascismo, e as Forças Armadas, em nome do tal artigo 142 da Constituição, entrariam em campo como mediadoras.

Os conflitos que a própria extrema direita teria provocado seriam combatidos pelos militares aliados de Bolsonaro.

E, a partir daí, seria criado um ambiente em que, sob o pretexto da busca da normalidade, tudo poderia acontecer sob o controle dos militares.

As instituições seriam amordaçadas, diante da aceitação do golpe, Bolsonaro continuaria no poder por tempo indeterminado, ou governaria ao lado de uma junta militar.

O tempo passaria e tudo se manteria assim por muitos anos. O golpe de 64 deveria ter durado pouco tempo e se estendeu por duas décadas e meia.

Parece uma tese maluca, mas não é improvável. Nada mais é improvável. Essa normalização pós-golpe seria alcançada se os militares transmitissem firmeza e confiança à população.

E aí surge a pergunta incômoda: mas a sociedade brasileira aceitaria o golpe, submetendo-se a um governo autoritário mais uma vez?

Pelo que vem acontecendo há muito tempo, desde o fracasso das tentativas de manifestações de rua contra o sujeito, a resposta pode ser sim.

A classe média está anestesiada pelo constrangimento da própria participação nas manifestações que levaram ao golpe contra Dilma em 2016.

E o povo? O povo mesmo, numa referência aos mais pobres, só vai para a rua em países vizinhos.

Aqui, o povo só tem energia para brigas intensas e ações nas ruas em confrontos de torcidas em jogos de futebol.

E os jovens? Esses sumiram da cena política há quase uma década e estão à espera da interpretação, pelos cientistas, da inércia que os abateu.

Resumindo, é possível, sim, que um golpe seja assimilado como ‘normal’, se Bolsonaro e os militares conseguirem segurar insatisfações com medidas moralistas, ‘moralizantes’ e populistas.

Num país em que todas as anormalidades são possíveis, desde a derrubada de Dilma, nada mais é impossível.

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