O governador Witzel almeja 2022 rifando Bolsonaro e pegando carona na morte de Marielle. Por Donato

Atualizado em 14 de março de 2019 às 8:15
O governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel – Wilson Dias/Agência Brasil

POR MAURO DONATO

Para as autoridades encarregadas de ‘esclarecer’ a operação que prendeu dois suspeitos de matar a vereadora Marielle Franco ocorrida a dois dias do assassinato completar um ano, a data não passou de uma coincidência e que neste momento a investigação ‘ficou madura’.

Fato é que o caso nunca saiu da mídia – internacional inclusive – e no dia 14 o tema dominaria as manchetes mundo afora. Apresentar dois encorpados suspeitos é, tanto quanto obrigatório, conveniente.

Para quem vislumbra o Planalto em 2022, então, oportunidade de ouro estar com o microfone em mãos e anunciar a captura dos dois (um policial militar reformado e um ex-policial) e mais 117 fuzis M-16, caixas com 500 munições e R$ 224 mil em dinheiro.

O governador Wilson Witzel falou até em ofertar o instrumento da delação premiada aos acusados, tema mais apropriado ao juiz-ministro Sergio Moro (outro possível postulante ao cargo de presidente nas próximas eleições).

Witzel elegeu-se de forma surpreendente. 

Pulou de lanterninha para o primeiro lugar em questão de poucas semanas (no início de setembro tinha 1% de intenção de voto) e logo mostrou a que veio ao mandar confeccionar uma faixa para vestir na cerimônia de posse. 

Desde então ele fala abertamente sobre a possibilidade de ser candidato a presidente nas próximas eleições.

Já em tom de campanha, tem dito que gostaria de ver mais juízes se candidatando, afirma que apreciaria a criação de um ‘partido do Judiciário’. 

Marcelo Bretas é um que passou a ser visto em companhia de Witzel a todo momento, até em camarote de carnaval. Witzel era juiz federal até março de 2018.

Por seu objetivo, o governador tem feito de tudo para se descolar dos trapalhões Bolsonaros. Recentemente trocou seu secretário de governo que havia sido indicado por Flavio Bolsonaro. 

Ele também tem demonstrado força e capacidade de articulação política (disciplina na qual Jair Messias é nota zero) dentro da Assembleia Legislativa do Rio. 

Conseguiu fazer com o que líder do governo na Alerj, Márcio Pacheco (do PSC, veja só), retirasse sua candidatura à presidência da casa em apoio à eleição do petista Ceciliano. Tem dado declarações que criticam a capacidade de Bolsonaro em aprovar a reforma da Previdência.

Mas o quão fundo Wilson Witzel iria em sua cruzada?

O assassinato de Marielle é um fantasma para todo o poder público. Ele revelou o quanto as milícias avançaram em termos de poder e estão entranhadas tão profundamente a ponto de calar a todos. 

O caso constrangeu até o então ministro da Segurança, Raul Jungmann, que afirmou ter gente graúda por trás e demonstrou impotência para combater uma rede de protecionismo que acoberta as milícias.

Jungmann classificou como “coração das trevas” aquele ambiente. Depoimentos falsos, vazamentos de informação sobre operações de busca e apreensão, atrasos intencionais na apuração dos fatos. 

Foi preciso uma ‘investigação da investigação’ para, um ano depois, chegarmos a dois nomes apenas.

Como afirma José Claudio Souza Alves, autor de “Dos Barões ao Extermínio: A história da violência na Baixada Fluminense” e estudioso de milícias há 26 anos: “Milícias não são um Estado paralelo. Elas são o Estado”. Sinistro, como dizem os cariocas.

O atual governador carioca assumiu a postura corajosa de enfrentador das milícias em frente aos microfones na data de ontem, pois nunca saberemos os reais mandantes da morte da vereadora. 

O mais provável é que mais dois ou três envolvidos sejam presos (havia um segundo carro no atentado) após o que o assunto voltará para o freezer.

Witzel estava ao lado dos simpatizantes de exterminadores que quebraram a placa com o nome de Marielle Franco. 

Na imensa maioria das vezes a foto daquele momento é publicada com um corte de modo que não se vê Witzel com o microfone na mão a um metro dos autores da atrocidade, mas ele estava ali.

Pegar carona no fato da ‘elucidação’ da morte da vereadora ocorrer durante sua gestão pode ser favoravelmente explorado. 

Mas até onde Witzel realmente estaria disposto a chegar? Iria mesmo mexer com esses policiais que ganham salário pouco maior que mínimo e ostentam vida de milionários?

O assassinato de Marielle, quanto mais as investigações avançam, mais se aproxima dos Bolsonaro. Um dos suspeitos morava no mesmo condomínio que o presidente. Na mesma rua C. 

Demais suspeitos já foram homenageados por Flavio Bolsonaro ou mesmo tiveram parente contratados pelo gabinete do filho zero-um.

Pode ser tudo coincidência, mas que é bem estranho, isso é. E pode acarretar em outro paladino em campanha retórica daqui pouco mais de dois anos. 

Sair do zero e vencer, ele já mostrou que consegue.