O governo interino está dando aos médicos o tratamento que os médicos deram a Dilma. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 15 de novembro de 2018 às 8:55

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A RBA deu a seguinte notícia:

Na sexta, quando as atenções do país estavam voltadas para o início oficial dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o Ministério da Saúde publicou no Diário Oficial a criação de um grupo de trabalho para discutir e elaborar projetos de convênios médicos privados de baixo custo, porém, de cobertura limitada.

O golpe são os chamados “planos populares” de saúde, que são defendidos pelo ministro interino da Saúde, Ricardo Barros. Para o Conselho Federal de Medicina (CFM), esses ‘planos populares’ distorcem os anseios da população.

Mais que isso, mas não explicitado pela nota do CFM, está a preocupação com a remuneração e as condições de trabalho dos médicos dos possíveis ‘planos populares’

Na nota oficial, o CFM se posicionou de maneira crítica à proposta do ministro Barros, que teve campanha financiada principalmente pelos planos de saúde.

Para a entidade, “a venda de ‘planos populares’ apenas beneficiará os empresários da saúde suplementar e não trará solução para os problemas do Sistema Único de Saúde”. (…)

Íntegra da nota:

“Em relação à portaria do Ministério da Saúde publicada no Diário Oficial da União desta sexta-feira (5), que cria Grupo de Trabalho para discutir e elaborar o projeto de plano de saúde com caráter popular, o Conselho Federal de Medicina (CFM) informa que:

A autorização da venda de “planos populares” apenas beneficiará os empresários da saúde suplementar, setor que movimentou, em 2015 e em 2016, em torno de R$ 180 bilhões, de acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS);

Se implementada, esta proposta não trará solução para os problemas do Sistema Único de Saúde (SUS), possivelmente sem a inclusão de doentes crônicos e idosos, resultando em planos limitados a consultas ambulatoriais e a exames subsidiários de menor complexidade. Portanto, não evitarão a procura pela rede pública ou impacto prejudicial ao financiamento do SUS;

Propostas como a de criação de “planos populares de saúde” apropriam-se e distorcem legítimos desejos e anseios da sociedade;

Na expectativa de um novo governo e de uma nova cultura de proficiência, eficácia e probidade na Nação, a sociedade conta, na verdade, com a adoção de medidas estruturantes para o SUS, como: o fim do subfinanciamento; o aperfeiçoamento dos mecanismos de gestão; a criação de políticas de valorização dos profissionais, como uma carreira de Estado para os médicos; e o combate à corrupção.

Somente a adoção de medidas dessa magnitude será capaz de devolver à rede pública condições de oferecer, de forma universal, o acesso à assistência segundo parâmetros previstos na Constituição de 1988 e com pleno respeito à dignidade humana. 

Brasília, 5 de agosto de 2016″

O interino nomeou para a pasta um sujeito que não passaria num teste para tirar carteira de motorista. Ou melhor, passaria, mas depois de molhar a mão dos funcionário da auto escola.

Antes de declarar que homens vão menos ao médico porque “trabalham mais que as mulheres”, contrariando o IBGE e o bom senso, Ricardo Barros já deu outras demonstrações cristalinas de indigência.

Defendeu a “pílula do câncer”, falou que quer discutir a legalização do aborto com a igreja católica e evangélica, descobriu que “a maioria das pessoas chega ao posto com efeitos psicossomáticos”.

Encontrou-se com uma senhora chamada Marisa Lobo, que se autodenomina “Psicóloga Cristã”. Marisa é uma das maiores advogadas da “cura gay”. No Facebook, ela revelou que lhe deu seu livro sobre a “ideologia de gênero” e ele a tranquilizou, lembrando que “o MEC agora é do DEM ”.

O maior doador individual da campanha de Barros a deputado federal no Paraná foi Elon Gomes de Almeida, sócio do Grupo Aliança Administradora de Benefícios de Saúde.

Gomes teve um mandado de busca e apreensão em sua casa por causa da operação Acrônimo. Em entrevista, Barros já mencionou a necessidade de redimensionar o SUS. Ligue os pontos.

A preocupação da classe de branco com relação ao ministro não deixa de ter uma dose de justiça poética.

Se houve uma categoria que surpreendeu nos últimos dois anos, pelas piores razões, é esta. Desde a gritaria xenófoba com os cubanos até o ódio aos nordestinos — uma senhora sugeriu um holocausto na região –, a maioria dos doutores foi responsável por uma sucessão de descalabros éticos.

O corporativismo deu as caras de um jeito feio, sujo e malvado. Mergulharam na “luta contra a corrupção” com amor e dedicação.

Em panfletos, uma Associação Médica Brasileira acusou o governo Dilma de “financiar a ditadura cubana”. Aécio era a solução porque ele pretendia que não houvesse “mais necessidade de estrangeiros no Brasil.”

Um doutor de Porto Alegre recebeu uma advertência carinhosa do presidente do Conselho Regional do Rio Grande do Sul (Cremers) depois de chamar Dilma de “uma grande filha da puta” nas redes e fazer uma versão assassina do Juramento de Hipócrates.

Ocorreram tentativas tímidas de acalmar os ânimos. Num debate sobre o mercado de trabalho na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, Miguel Srougi, professor titular de urologia da USP, ensaiou um mea culpa.

“Erramos. Não soubemos fazer o diagnóstico da situação. A população ficou contra a gente”, admitiu, sobre os ataques ao Mais Médicos.

Um grupo criado no Facebook que recebeu o nome “Dignidade Médica”, reuniu um número assombroso de mentecaptos denunciando, por exemplo, a “necessidade de sermos terroristas para nos colocar no nível de conversa que pobre entende”.

Em março, uma ex-secretária do governo Tarso Genro contou que a pediatra de seu filho de um ano se recusou a atender o menino porque a mãe era “petista”.

O proselitismo de baixíssimo nível desse pessoal ajudou a dar a alegação de “apoio popular” ao golpe. Agora eles têm de lidar com um presidente interino e um ministro que não hesitarão em atropelar os interesses deles.

2014 será lembrada como o ano em que Mister Hyde prendeu Doutor Jekyll no armário. Deu nisso. Eles que agora lidem com os monstros que promoveram.