O gran finale de Mandetta e seus pupilos. Por Moisés Mendes

Atualizado em 15 de abril de 2020 às 23:07

Publicado no blog do Moisés Mendes

Wanderson de Oliveira e o chefe Mandetta em coletiva

Bolsonaro e os militares dispostos a mandar Luiz Henrique Mandetta embora poderiam esperar mais um pouco. Se decidirem mandá-lo amanhã, estarão despedindo o ministro e sua equipe um dia depois de um show na TV.

Mandetta e seus dois principais assessores, Wanderson de Oliveira, secretário de Vigilância em Saúde, e João Gabbardo, secretário-executivo do Ministério, pularam do trapézio sem rede, deram saltos mortais triplos carpados, entraram no globo da morte e saíram ilesos na entrevista coletiva de hoje.

E ainda riram muito. Foi um espetáculo de afinação, um jogral devastador para o bolsonarismo.

Oliveira apareceu depois de ser considerado demitido hoje pela manhã. Mandetta disse que o assessor fica e só sai quando ele sair.

Gabbardo, especulado como o subordinado que desejaria ocupar o lugar de Mandetta, disse que fica com o ministro até o final, porque não quer jogar seu patrimônio de quatro décadas como servidor público no lixo.

Todos exaltaram o serviço público. Wanderson foi o mais enfático. Estava ali muto mais como servidor da saúde do que do que ocupante de um cargo de chefia e de confiança. E fechou sua fala com uma frase poderosa de reconhecimento aos colegas:

“A saúde pública no Brasil não é feita de personalidades”.

A saúde é feita com a dedicação dos funcionários públicos. A entrevista de hoje foi uma homenagem ao trabalho coletivo, à ciência e ao SUS.

Há muito tempo a esquerda não dá um show como o de hoje. A direita tem vários times. Mandetta é médico, mas estava tão inspirado que falou como se também ele fosse servidor de campo da saúde.

À vontade, deu uma paulada irônica em Osmar Terra:
“Não somos astrólogos, não fazemos previsões”.

E deu outra paulada já repetida em Bolsonaro:
“Fazemos a defesa intransigente da vida e a defesa intransigente da ciência”.

Desmontou de novo os argumentos em defesa da cloroquina. Disse que pode sair se Bolsonaro decidir, se vier a adoecer ou se ele mesmo concluir que já fez seu trabalho e não aguenta mais conviver com Bolsonaro.

Deixou claro que não há sentido em estimular que sua equipe fique, porque estará trabalhando sob a orientação divergente dos que chegarão depois e se guiarão pelo pensamento de quem torce pela pandemia.

Mas avisou que todos ficarão até se completar a transição com o time do novo ministro.

Mandetta pode sair a qualquer momento. Disse até que conversou com os ministros Braga Netto e Augusto Heleno sobre possíveis nomes que poderão sucedê-lo.

Tudo o que Bolsonaro não consegue, que é oferecer algum resquício de racionalidade ao que diz e faz, Mandetta e seus assessores ofereceram hoje.

O ministro ameaçado tem a seu favor o fato de que montou uma equipe técnica, que soube se despedir também politicamente e com bom humor.

Perguntaram a Wanderson de Oliveira o que o levou a pedir demissão a Mandetta. Sua resposta:

“Estamos muito cansados”.

Nós também. Agora, precisamos cansar os fascistas.