O grandioso, caro e longo “Interestelar” é, no fundo, vazio como qualquer filme de fim do mundo

Atualizado em 25 de novembro de 2014 às 9:37

 

“Interestelar”, o longa de Christopher Nolan que está arrebatando as bilheterias, podia ser um sinal de inteligência nos blockbusters de Hollywood, mas é apenas mais do mesmo disfarçado: uma história repetida, diálogos eventualmente com padrão de filme brasileiro, personagens inconsistentes — tudo isso embalado em zilhões de efeitos especiais e muito dinheiro. Se um filme depende de uma sala IMAX para ser desfrutado, não é bom sinal.

Não que seja totalmente um abacaxi. Mas padece de alguns problemas de muitos filmes de ficção científica, bons ou ruins. Para começar, a necessidade de dar um arcabouço científico à trama. Ninguém entende nada do que se fala, mas é importante parecer que aquela especulação toda é absolutamente possível. Contrate-se um consultor!

A essa altura, você já sabe do que se trata. Cooper (Matthew McConaughey), um astronauta transformado em fazendeiro, é enviado a uma missão espacial para encontrar um outro planeta para a população da Terra, já que estamos a caminho de virar um monte de poeira.

Ele é viúvo e mora com a filha Murph, prodígio de 10 anos (Mackenzie Foy), mais o filho que ele despreza e o ex-sogro estranho.

Enquanto Cooper está no espaço, Murph vira cientista da Nasa e tenta encontrar um plano B para os terráqueos até seu pai voltar com a notícia de que achou um outro lar.

É sempre curioso ver atores obrigados a tentar falar com autoridade sobre física quântica, teoria da relatividade, singularidade etc. Fica nítido que não estão entendendo patavina do que estão dizendo. Os espectadores têm a mesma sensação. Não há registro de que alguém tenha saído do cinema sabendo o que são e para que servem os buracos negros.

Também não é essa a intenção. Toda a overdose de cientificismo serve para dar um verniz a um drama familiar que não hesita em apelar para instintos básicos. Cooper, que abandonou a família, vive com culpa e chora copiosamente quando lhe enviam os vídeos com recados de casa.

O velho cientista autor do plano de fuga (Michael Caine), pai da companheira de viagem de Cooper (Anne Hathaway), garante outros momentos de pieguice. Cada detalhe sem explicação é atribuído a “eles” — os extraterrestres, presume-se, ou, se preferir, Deus. A uma certa altura, o personagem de Hathaway começa a explicar por que o amor transcende as dimensões de tempo e espaço. Só o amor constrói.

“Interestelar” é o equivalente a um disco fraco de rock progressivo. Cheio de notas, pretensioso, com citações supostamente eruditas, grandiloquente — e, no fundo, raso. Tudo pela módica quantia de 160 milhões de dólares.

Não se destaca tanto assim da miríade de longas sobre o fim do mundo. É “Armagedon” com um pouco menos de apelação, o que não seria difícil. Se a Terra está nas últimas, é hora de dar tchau. Para que cuidar?

Na dúvida, reveja o “2001” de Kubrick. O computador canalha HAL 9000 tem mais humanidade em seus circuitos do que meio elenco de “Interestelar”.  Sem contar que é mais divertido.