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O grupo fascista Direita SP afronta o Ministério Público e organiza bloco em homenagem a torturadores. Por Donato

O delegado Fleury é o patrono do pessoal

O que pode ser pior que febre amarela a um passo de se tornar urbana ou que o vídeo de Cristiane Brasil a bordo de uma lancha ao lado de ‘empresários’ descamisados fazendo pouco caso de quem reivindica direitos trabalhistas?

Que tal um bloco carnavalesco chamado Porão do DOPS 2018?

A excrescência é obra do pavoroso ‘movimento’ Direita São Paulo, página que é favorável a tudo que há de mais antidemocrático, que incita violência contra refugiados e que faz postagens com distorções tamanhas a ponto de classificar Marcia Tiburi como defensora do crime de assalto.

No evento criado no Facebook e agendado para ocorrer no próximo dia 10, os organizadores informam que a inscrição custa R$ 10,00 e que ‘haverá cerveja, opressão, carne, opressão (de novo) e marchinhas opressoras’. E termina conclamando: ‘Se você é anticomunista, não pode perder! Venham à caça, soldados!’

A letra de uma das marchinhas propostas está ali. “Ó comunista porque estás tão triste / mas o que foi que te aconteceu? / Foi o Marighella, o capturado, que levou uns tiros e depois morreu’.

Nas diversas postagens, homenagens ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (comandante do DOI-CODI) e Sérgio Paranhos Fleury (delegado do DOPS) e enquetes sobre qual boneco a ser preparado para sofrer malhação, se o de Carlos Lamarca ou Marighella.

No convite, o local de concentração do bloco encontra-se como ‘a definir’. Isso porque ontem o Ministério Público entrou com uma ação civil pública contra os organizadores.

Os promotores Beatriz Fonseca e Eduardo Valério entendem que o ‘bloco carnavalesco’ enaltece o crime de tortura.

Edson Salomão e Douglas Garcia, presidente e vice-presidente do grupo Direita São Paulo, responderam que realizarão o evento de qualquer maneira.

O local será informado por email aos inscritos, num gesto que acreditam ser uma demonstração de desobediência civil (esses meninos não devem nem saber ler pois a ação civil pública não proibe o evento em si, apenas que cessem qualquer modalidade de divulgação que implique em propaganda ou apologia de tortura, e que se delete imagens dos torturadores e modifique-se a alusão ao porão do DOPS na denominação do evento).

No ofício em resposta no qual alertam que não atenderão à recomendação do MP, os fascistóides apelam, claro, para o artigo 5º da CF (liberdade de expressão) e contestam o fato do coronel Brilhante Ustra ser torturador (afirmam que isso é um ‘equívoco’ da Comissão Nacional da Verdade).

Ao ficarem afrontando uma decisão do Ministério Público, esses palhaços carnavalescos de direita estão promovendo desobediência civil? Não são eles que desde o dia do julgamento e condenação de Lula pelo TRF-4 estão repelindo os discursos de Lindberg Farias ou Gleisi Hoffmann? A direita pode insuflar dessa maneira?

Em tempos em que juiz recebe auxílio moradia e coloca imóvel para alugar, tudo é possível. Aguardemos então que a Polícia Civil, que paralelamente ao MP instaurou inquérito policial para apurar crime de apologia da tortura por Edson e Douglas, tome alguma providência prática.

Mauro Donato

Jornalista, escritor e fotógrafo nascido em São Paulo.

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