Publicado no Tijolaço.
POR FERNANDO BRITO
O gasto de milhão e meio de reais da licitação da despensa do avião presidencial é nada perto do gasto feito hoje pelo Governo Michel Temer com a página inteira que veicula nos grandes jornais do Brasil.
Numa avaliação bem modesta, é coisa de 10 vezes mais, a depender de quantos jornais possam ter recebido o mimo, e supondo que metade da verba tenha ido para a trinca Folha-Estadão-O Globo, ficando o resto para ser rateado (!!) pelo restante do cardume ávido.
É possível que as revistas ganhem também, cada uma, um par de páginas, para ampliar ainda mais aquela multiplicação em 900% que se lhes fez das verbas publicitárias desde a chegada de Temer ao Planalto, mas isso não entrou na conta, pelo saudável hábito de não afirmar que vá acontecer o que – ainda – não aconteceu.
A ver se a valorosa reportagem dos jornais, neste vazio de noticiário, se darão ao trabalho de medir estes gastos, como fazem com a gasolina do carro de Lula.
A marotagem da peça começa no título. Temer faz “apenas” 120 dias de Governo, embora o usurpador esteja no poder há 200, desde que afastaram Dilma. E, neste período de formal interinidade, em nada se acanhou de fazer e desfazer, como ficou claro ao mandar ao Congresso uma emenda garroteando as verbas de Saúde, Educação e Assistência Social por nada menos que 20 anos, cinco mandatos presidenciais.
O anúncio é, como se dizia antigamente, “all type”. Não tem imagem. E não tem porque não há obras ou realizações que possa mostrar ao distinto público.
Uma mísera ponte – que não seja para o futuro, mas uma pinguela sobre um riacho que interrompa o caminho em alguma zona interiorana, nada.
As “obras” que caudalosamente lista vão de intenções a leis que já vigiam há anos, como as da licença dada aos pais adotantes em paridade aos pais biológicos, sancionada em 2013 por Dilma Rousseff. Valeu-se, o generoso senhor, de algumas modificações aprovadas pelo Congresso, para também ele “adotar” a conquista como sua.
Uma virtude é possível, porém, apontar na peça publicitária – algo exagerado chamá-la assim, mas vá lá.
É a cara do dono.
Maçante, aborrecida, falsa, dissimulada, abstrata, vaidosa e, como já se apontou aqui, incapaz daquele mínimo que se esperaria de quem for falar do momento que vive o Brasil para que possa ter credibilidade: reconhecer que vivemos uma crise.
A falta disso, qualquer discurso, político ou publicitário está carimbado de falso e rescendendo a mentira aos olhos de quem o vê.
Mas não vem ao caso, nem é obter credibilidade o objetivo do anúncio.
É só um Haagen Dazs para a mídia, que precisa de um refresco no bolso neste calorão da crise.