O homem que denunciou Aécio, a Lista de Furnas e o mensalão mineiro pode ser preso nesta quinta. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 19 de abril de 2017 às 22:02
Nilton Monteiro

O homem que denunciou a Lista de Furnas e o Mensalão de Minas Gerais, Nilton Monteiro, foi condenado a 6 anos de prisão e pode ser levado à cadeia nesta quinta-feira, 20 de abril.

Para que isso aconteça, basta que a 2ª. Câmara Criminal do Tribunal de Justiça rejeite o recurso que está na pauta da sessão marcada para ter início às 9 horas desta quinta.

O relator do recurso é o desembargador José Mauro Catta Preta Leal, primo de Nilton e uma das autoridades apontadas por ele como envolvidas no caso do Mensalão mineiro.

Segundo a defesa de Nilton, Catta Preta Leal era procurador do Estado durante o governo de Eduardo Azeredo e chegou a ser chamado para depor no inquérito que apurou o Mensalão.

Catta Preta teria assinado parecer que autorizava a transferência de recursos do Estado para a agência do publicitário Marcos Valério.

Catta Preta não foi denunciado, mas o inquérito resultou na condenação do ex-governador Eduardo Azeredo, do PSDB, em primeira instância – o caso, anterior e parecido com o Mensalão de Brasília, ainda não foi julgado em segunda instância.

Na sentença que condenou Azeredo, Nilton é apontado como testemunha-chave.

No caso da Lista de Furnas, que envolve Aécio Neves, a denúncia da Procuradoria da República também se fundamenta nos documentos e nas declarações apresentadas por Nilton, que entregou a relação de políticos que receberam propina de fornecedores da estatal e assume sua participação no esquema de corrupção na estatal.

Apesar disso, a condenação de Nilton é por outro caso.

Como operador do ex-deputado mineiro Sérgio Naya, já falecido, Nilton ficou com uma nota promissória assinada por um advogado no Rio que tinha negócios com ele.

Quando o advogado morreu, Nilton se habilitou no inventário para receber a dívida, mas os herdeiros o denunciaram por falsificação de documentos, crime que não pôde ser comprovado, já que a nota promissória original desapareceu do processo.

Mesmo assim, foi condenado.

E hoje quem vai julgá-lo é uma autoridade denunciada por ele, que ocupou cargo de confiança no governo do PSDB denunciado por ele.

Seu advogado entrou com pedido de habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça segunda-feira, para tentar evitar o julgamento pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais, sob o argumento de que Nilton é alvo de perseguição política.

Eis um trecho do pedido de habeas corpus, ainda não julgado pelo STJ:

Nilton Monteiro é um arquivo vivo sobre os malfeitos de um grupo de pessoas pertencentes ao PSDB. Esteve envolvido em interesses das campanhas tucanas de 1998 (reeleição do ex-governador do Estado de Minas Gerais Eduardo Brandão de Azeredo) e 2002 (ex-governador do Estado do Espírito Santo José Ignácio Ferreira).

Depois de desentendimentos com o tucanato, denunciou à Polícia Federal a conhecida Lista de Furnas, que diz respeito ao desvio de verbas (caixa 2 do PSDB das eleições de 2002) e uma outra lista atribuída a Marcos Valério, de 1998 (Mensalão Mineiro).

O paciente Nilton Monteiro passou a ser perseguido pelo tucanato de Minas Gerais desde o governo Aécio Neves.

Setores da polícia civil de Minas Gerais submeteu o paciente a um polêmico inquérito, não para investigar suas denúncias, mas para prendê-lo sem nenhuma condenação e desacreditá-lo, com características arbitrárias e de intimidação.

(…)

O paciente foi alvo de um incêndio criminoso em sua casa, que provocou explosões cinematográficas de carros, ameaçou a vida de nove pessoas de sua família, sendo que uma delas ficou quarenta e oito horas no CTI”.

Com o julgamento de hoje, caso Nilton seja preso, o que é provável, a situação será seguinte: os políticos que aparecem nas da Lista de Furnas, entre eles Aécio, Geraldo Alckmin, Serra e Jair Bolsonaro, continuam soltos, mas o denunciante vai para trás das grades.

As instituições brasileiras estão funcionando perfeitamente.