Bolsonaro

O homem que divide as famílias. Por Fernando Brito

Ilustração: João Montanaro/Folha de S. Paulo

Por Fernando Brito

Publicado em O Tijolaço

Nenhum governo fez mais que o de Jair Bolsonaro para destruir a família, com a ajuda prestimosa, é verdade, de pastores fundamentalistas que se misturaram a ele na chamada “pauta de costumes”, que é, essencialmente, a negação do direito às diferenças.

Ontem à noite, não havia ainda circulado a informação do Datafolha de que metade dos brasileiros deixou de falar de política – e, portanto, de seu próprio destino – e certamente parcela igual ou parecida também se fechou sobre questões de comportamento, temendo as consequências da intransigência e as reações de violência verbal e, até física.

Os números são a completa reversão da ideia de sociedade que, para o bem e para o mal, o sociólogo e historiador Sérgio Buarque de Holanda chamou de “cordial”: 54% dos entrevistados do Datafolha disseram já ter se calado ou já ter sofrido ameaças verbais e físicas em razão disto que, em contraposição, poderia ser chamado de “brasileiro figadal”.

É quando se perde a racionalidade e só se deseja a destruição do oponente.

É obra de múltiplos autores, claro, que vêm desde Aécio Neves em 2014 e Sérgio Moro nos anos ainda ‘pré-Bolsonaro’, mas foi este que levou a insânia à expressão da “arminha” que lhe retira todos os limites e passa ao “vamos fuzilar a petralhada”.

Quatro anos depois, quando um dos seus alucinados fez isso de fato no Paraná, ele diz que “foi em sentido figurado”.

O cientista político Cláudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas, em entrevista à Folha explica como é este “figurado”:

Bolsonaro sempre tergiversa quando percebe que algo pode prejudicar sua tentativa de reeleição, ou qualquer interesse seu e de sua família. De nada adianta dizer que dispensa o apoio de quem lança mão da violência e, simultaneamente, estimular essa mesma violência.
Bolsonaro incentiva a violência, inclusive a de natureza política, o tempo todo. Afinal, essa é a mensagem que ele dá quando diz, pondo em dúvida a lisura do processo eleitoral, que seus apoiadores já sabem o que devem fazer —sem dizer explicita e diretamente o que eles devem de fato fazer.
Da mesma forma, incentiva o uso da violência armada para fins políticos quando defende o armamento da população —que, no léxico bolsonarista, significa “os bolsonaristas”— para assegurar a liberdade contra eventual tirania, que ele persistentemente identifica com a esquerda.
O mesmo vale para suas seguidas ameaças de recorrer ao poder armado para garantir o resultado eleitoral que seja do seu agrado. Tudo isso sinaliza para os seguidores que o uso da violência é parte do jogo político e deve estar no cardápio dos que “lutam por sua liberdade”.

Tudo isso, porém, é pouco, perto do que se poderia imaginar não apenas de uma vitória de sua candidatura, mas mesmo de uma derrota postergada para o quatro semanas após o 2 de outubro, pela miopia dos que não enxergam perigo em alguém capaz de dizer “e daí?” para centena de milhares de mortos da pandemia, ou de proteger gente capaz de ameaçar de surras qualquer um que se oponha ao seu avanço.

É nosso dever, ainda que com todos os riscos, desmontar esta intolerância, tirando dela a sua pedra fundamental. Não adianta fazer discurso contra o ódio político se ele permanece na recusa em aceitar a única possibilidade que temos de tirá-lo do trono presidencial.

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