O homem que mudou a China — e o mundo

Atualizado em 23 de julho de 2012 às 4:44
Deng nadando

 

22 de julho  de 1977 é uma data que mudou o mundo tal como o conhecemos. Naquele dia, Deng Xiaoping voltou ao poder na China depois de uma temporada no ostracismo por ser visto com desconfiança por seu chefe Mao Tsetung. Depois da morte de Mao, em 1976, Deng retornou ao poder para fazer história.

Deng inventou o comunismo à chinesa – uma mistura de socialismo com capitalismo que fez a China sair em tempo recorde da periferia do mundo para a condição de superpotência. Ao contrário do rígido (e fracassado) comunismo russo, a China sob Deng permitiu que as pessoas montassem seus negócios. “Enriqueçam”, disse ele. Ninguém enriqueceu tanto, sob a palavra de ordem de Deng, quanto a própria China. É de Deng outra ação crucial para o desenvolvimento moderno chinês: o controle da população.

Deng fez uma coisa fundamental em sua gestão: pregou, pregou e ainda pregou. Muitos empresários de sucesso hoje na China dizem ter sido inspirados pelas falas de Deng numa peregrinação que ele fez por todo o país com o objetivo de mudar a mentalidade das pessoas — principalmente dos jovens.

Casou-se três vezes e teve cinco filhos. Era tão baixinho que, ao sentar em poltronas mais altas, ficava com os pés balançando no ar. Fumava tanto que os dedos ficaram marcados pela nicotina. Gostava de nadar. De certa forma, foi um produto dos ingleses: Deng se tornou militante de movimentos de protesto nos anos 1920 por causa da presença britânica na China. Ainda jovem, se exilou em Paris primeiro e depois em Moscou, o que contribuiu para sua visão cosmopolita — e também para sua imersão no marxismo que o levaria ao Partido Comunista Chinês. Foi no partido que ele adotou o nome de Deng Xiaoping, que significa “Pequena Paz”.

Logo ficou claro que ele iria longe. Num encontro entre líderes comunistas chineses e russos na década de 1950, Mao estava com Nikita Kruschev, o sucessor (e crítico feroz) de Stálin. “Tá vendo aquele homenzinho?”, Mao disse a Kruschev, apontando para Deng. “É inteligentíssimo. Tem um grande futuro.”

Deng, como todo bom discípulo de Confúcio — o filósofo chinês  de 2500 anos atrás que ainda hoje exerce enorme influência na China –, não se persignava diante de nada. Tinha um olhar inquisidor e frequentemente desconcertante para tudo. Em 1989, nos 200 anos de Revolução Francesa, lhe perguntaram sobre o impacto dela na humanidade. “Ainda é cedo para dizer”, respondeu Deng.

Ele morreu em 1997, aos 93 anos – a tempo de ver os primeiros frutos da monumental transformação que ele trouxe não apenas para a China mas para o mundo.

Para usar as sábias palavras dele mesmo sobre os franceses que cortaram as cabeças de reis para decretar a igualdade, a liberdade e a fraternidade, ainda é cedo para avaliar a revolução que Deng criou.