O Homem Voltou – Lula 2022, temores e perspectivas. Por Maurício Falavigna

Atualizado em 16 de abril de 2021 às 22:55
Lula em entrevista ao DCM. Foto: Ricardo Stuckert

Originalmente publicado em RECONTA AÍ

Por Maurício Falavigna

Depois da decisão do STF em mais uma sessão levada a cabo como espetáculo, não restam dúvidas de que Lula voltou à cena política deste País. As pesquisas já incluem seu nome e mostram um favoritismo incontestável para o próximo pleito. No entanto, já escaldados com os esforços da elite financeira, da mídia, dos militares e de todos os atores do golpe de 2016, sempre paira um temor sobre qualquer continuidade política e institucional no País – é quase impossível afirmar que nos aproximamos de uma normalidade.

Embora as eleições estejam distantes, toda a oposição política e até a base de apoio da situação, desde o início do governo Bolsonaro, movimenta-se para o pleito. Afinal, esta gestão já nasceu com a certeza do fracasso retumbante e de uma faca mortal de dois gumes – ou o fim do próprio governo ou dos frangalhos de uma democracia, o aprofundamento ou o término do golpe de Estado.

A acomodação dos principais participantes do “Movimento” de 2016 foi visível: militares ocuparam a administração e acumularam salários, o Judiciário manteve seus privilégios e o protagonismo político, os grandes do país se aproveitaram do caos e da pandemia para aumentar seus patrimônios, os poucos que mantêm as portas abertas se beneficiaram a precarização do trabalhador e preveem um futuro próspero de mão de obra barata, os ideólogos e os agentes externos assistiram com prazer ao desmantelamento do Estado e ao fatiamento das estatais.

O complexo midiático seguiu firme e forte na autocensura e no apoio ao pacote neoliberal e à despolitização. Barrou as notícias e a presença de Lula e prosseguiu em sua campanha para assassinar um partido. Moldou a oposição palatável, concentrou suas críticas à família presidencial (e não ao modelo econômico adotado), demonizou toda e qualquer posição divergente, como intervenção do Estado na economia; fortalecimento das empresas estatais e do patrimônio nacional; defesa do funcionalismo público, de sindicatos e movimentos sociais que questionam o status quo, ou de ideias que cobram a presença pública nas áreas sociais.

Porém, nem o partido execrado na mídia e nem a principal liderança popular da história deste País se renderam, muito menos foram enterrados. A oposição encarada como “esquerda” pela opinião pública – a esquerda permitida, que aceitou o papel “recomendável” de fazer oposição a Bolsonaro e manter o antipetismo vivo – buscou de todas as formas se aproveitar do momento e ocupar espaços que foram abertos pelos meios de comunicação. Não conseguiram. A cada entrevista ou aparição, Lula agita o cenário político provocando incômodos no establishment e suscitando lembranças de outros tempos à população.

Perguntas se sucedem neste momento: quais os próximos passos do golpe? O que farão para impedir Lula e o PT novamente? E, no caso de relaxamento do arbítrio, quem criarão como contraponto a Lula nas eleições de 2022?

Nesta última hipótese, de retomada de uma certa normalidade em nossa torta e falsa República, o que sobra para evitar a volta de um governo voltado para a redistribuição de renda, os investimentos sociais, o fortalecimento do papel público das estatais, o planejamento produtivo e o desenvolvimento?

A aposta será na comunicação e nos aspectos superestruturais da cultura de mercado. As estampas de ultrapassado e moderno, tão cara à sociedade de consumo, continuarão prevalecendo na conformação (ou no cabresto) da opinião pública. Esquecer uma experiência exitosa recente e as realidades que gerou, esquecer fatos e números, apregoar valores vazios como equilíbrio fiscal e teto de gastos, insistir no termo polarização e apelar para a união social, erguer a farsa da luta anticorrupção e prosseguir na despolitização do debate – essas serão estratégias que irão se combinar com o uso explícito de financiamento. Lula e o PT terão as mesmas dificuldades de encontrar espaços públicos para erguer suas vozes. A chamada “mídia independente” se verá na situação de oferecer seus préstimos a mais de um candidato. Os espaços hoje existentes diminuirão. Incrementar a oposição ao PT apostando na própria “esquerda” será um caminho mais forte desta vez, já que foi uma estrada bem pavimentada nos últimos cinco anos. Vão apostar na cultura de mercado, na esperança consumista do novo, na utopia da superação das divisões sociais, no massacre midiático de ideias que coloquem em risco um sistema que faz o lucro depender da exclusão.

Não bastasse o temor que o céu do golpismo latino-americano caia sob suas cabeças, Lula e o PT precisam pensar desde já em como se comunicar. Mais do que angariar alianças e parcerias políticas, é preciso pensar em como cavar espaços para dialogar com os diversos setores da população. Em como combater o discurso que inverte a realidade e coloca os trabalhadores e pobres a favor de quem os mata. Em como voltar a virar este mundo (astuto, mau e ladrão) em festa, trabalho e pão.