O humor babaca que se faz hoje

O texto abaixo, de Nathalí Macedo, foi publicado no site Entenda os Homens.

Antes de qualquer coisa, vamos deixar claro ao que me refiro quando falo em “humor babaca”: Não é apenas o humor racista, machista, politicamente incorreto e cheio de outros “istas” que os engraçadinhos de plantão vivem defendendo. Humor babaca é aquele que, além de ofensivo, não tem nenhuma graça. É o humor de quem não tem inteligência para fazer rir.

Fazer piada com minorias é – e não é de hoje – o carro chefe do humor, desde que começou-se a convencionar que se pode fazer graça do óbvio, sem muito esforço e sem muito pensar, desde que se apedreje alguém que já está marginalizado e não pode se defender. A palhaçaria ingênua e o humor simples e bem feito dos Trapalhões (na década de oitenta/noventa), deu espaço a um humor patético, pervertido e absolutamente sem graça.

E, antes que comecem a me apedrejar, eu também luto pela liberdade de expressão. E luto, sobretudo, para que não confundam liberdade de expressão com liberdade de opressão, como o tal ~humorista~ vem fazendo. Ou é difícil entender que chamar uma mulher vaca porque ela cometeu a “monstruosidade” de doar leite materno para dezenas de crianças não tem nada a ver com liberdade de expressão? Ou que dizer que vai “comer” a mãe e a filha, referindo-se a uma mulher grávida, em rede nacional, não tem graça nenhuma? É ignorância, é burrice, é falta de talento – ou é muita vontade de chamar a atenção.

É claro que o humor dessa geração tem seus méritos – o talentoso Paulo Gustavo está aí pra nos provar, fazendo um humor que consegue fugir da caretice sem massacrar ninguém. O humor que fala de pobre, de gordo, de burro, de favela – de minorias, de um modo geral – de um jeito leve que não humilha, não subjuga e – principalmente – de um jeito que faz rir.

Eu não quero defender a piada monótona em que não se pode criticar nada. O humor de fato inteligente não precisa ser, necessariamente, politicamente correto. A ética não cabe no humor. Humor inteligente é quando o gordinho ri da piada de gordo – porque é leve, é verdadeira, é inofensiva. É quando o pobre ri de uma piada de pobre – por que se reconhece e não se sente invadido. É quando até humorista ri de si mesmo. Humor inteligente é humor sensato, que conhece a medida do respeito e do bom senso.

A questão por trás de tanta imbecilidade de alguns desses humoristas é, na verdade, muito simples: é que pra fazer rir de verdade é preciso talento. E talento é coisa que os Danilos Gentillis e Rafinhas Bastos não estão apresentando ultimamente.

Diario do Centro do Mundo

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