O impacto do Movimento Ocupe Wall Street no mundo contemporâneo

Atualizado em 6 de março de 2013 às 10:03

Os protestos foram inicialmente desprezados como manifestações anticapitalistas. Mas eram bem mais que isso

“Eles estavam certos”

Qual o impacto do Movimento Ocupe no mundo?

Ativistas e comentaristas isentos têm dito e escrito o óbvio: o movimento trouxe a questão da desigualdade social para o topo da discussão em todas as partes.

(Aparentemente o PSDB e a mídia brasileira não se deram conta disso. Mas foram exceções, felizmente.)

Agora, a visão transformadora do movimento recebe um reforço de quem está, por assim dizer, do lado de lá. O banqueiro britânico Andrew Haldane, diretor executivo de estabilidade financeira do Banco Central do Reino Unido, afirmou que os protestos tocaram “um nervo moral”.

Num pronunciamento que está tendo grande repercussão na mídia inglesa, Haldane afirmou: “O Ocupe foi bem sucedido em seus esforços de chamar a atenção para os problemas do sistema financeiro global por uma razão: ele estava certo.”

Clap, clap, clap. De pé.

Entrevista com os manifestantes do Ocupe Londres.

Cobri bem o Ocupe Londres. Fui várias vezes à concentração de barracas, na frente da Catedral de São Paulo.

Lembro que, no princípio, mesmo a equilibrada BBC se referia desdenhosamente ao movimento como algo “anticapitalista”. Progressivamente, a BBC e a mídia britânica foram ajustando seu foco.

Não eram protestos contra o capitalismo. Mas contra o sequestro do Estado, em várias partes do mundo, feito por uma minoria gananciosa, inescrupulosa e disposta a tudo para aumentar ilicitamente sua riqueza. Era o infame “1%”, um grupo que tenta construir Estados-bebês para eles mesmos.

Os protestos, segundo Haldane, foram num tom “alto e persuasivo”.  A legislação financeira britânica está sendo reformada graças a eles. Os bancos vão se reformulando.

“Há um sutil, mas inconfundível, sinal de que uma página está sendo virada”, disse Haldane. Dois dos maiores bancos britânicos, afirmou ele, o Barclays e o Lloyds, estão voltando às suas raízes e abandonando a cultura do lucro imediato a qualquer preço em que mergulharam nos últimos anos com resultados ruinosos para eles próprios, para a economia britânica e para a sociedade.

Os 99% se manifestaram. Como escreveu Shelley, o grande poeta libertário inglês, eles acordaram como “leões” depois de uma noite longa – eles que são “muitos” e vinham sendo pisoteados por tão poucos.