O impasse na bancada ruralista, aliada a Bolsonaro, após tarifaço de Trump

Atualizado em 12 de julho de 2025 às 7:37
Pedro Lupion, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária. Foto: Marina Ramos/Agência Câmara

A bancada ruralista do Congresso Nacional, tradicional aliada do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), enfrenta um dilema político e econômico diante da ameaça de tarifação de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Segundo o jornal O Globo, parlamentares ligados ao agronegócio admitem o constrangimento de ver empresários do setor, majoritariamente de direita, sob risco comercial por uma medida justificada como apoio a Bolsonaro, que Trump classificou como vítima de “caça às bruxas” no Brasil.

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) emitiu nota defendendo uma “resposta firme e estratégica” e uma “diplomacia afiada”, mas evitou críticas diretas a Bolsonaro. Publicamente, os ruralistas preferem culpar o governo Lula (PT) pela deterioração das relações com os EUA, citando como provocações a defesa de moedas alternativas ao dólar e o alinhamento com pautas progressistas internacionais.

“Eu acho que o mundo precisa encontrar um jeito de que a nossa relação comercial não precise passar pelo dólar. Quando for com os EUA, ela passa pelo dólar. Quando for com a Argentina ou China, não precisa. Ninguém determinou que o dólar é a moeda padrão. Em que fórum foi determinado?”, disse Lula durante a cúpula dos Brics, declaração que causou desconforto entre os ruralistas.

O presidente da FPA, Pedro Lupion (PP-PR), defendeu a postura da oposição: “A postura de culpar o governo federal é correta. Houve um derretimento das relações diplomáticas com os Estados Unidos. O desafio deve permanecer na linha diplomática para que se resolva tecnicamente o assunto. É necessário equilíbrio e não confundir economia com política ou ideologia”.

Pedro Lupion e Bolsonaro, enquanto ainda era presidente, em evento da FPA. Foto: Reprodução

Setores do agronegócio mais afetados pela medida, como produtores de laranja, café e carne, pressionam por uma solução rápida. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, classificou como “indecente” a sobretaxa e relatou conversas com entidades do setor para buscar novos mercados. Apesar das tensões com o governo federal, Fávaro mantém diálogo com a bancada ruralista.

O impasse expõe a difícil equação política dos ruralistas: boa parte da bancada foi eleita com apoio de Bolsonaro, que fez campanha intensa no interior de estados agrícolas como Mato Grosso, Goiás e Paraná. Uma ruptura com o ex-presidente, antes de conhecer seu real peso eleitoral em 2026, é vista como risco político.

Como alternativa, o Congresso aprovou em abril a Lei da Reciprocidade Econômica, relatada pela senadora Tereza Cristina (PP-MS), que permite ao Brasil responder com sanções comerciais a medidas protecionistas de outros países. A lei, aprovada por unanimidade no Senado, fortalece a Câmara de Comércio Exterior para suspender concessões comerciais quando a competitividade brasileira for afetada.