“O Ira! sai mais forte dessa”, diz Nasi ao DCM após expulsar fascistas de show

Atualizado em 9 de abril de 2025 às 22:24
Nasi, do Ira!

O Ira! sempre foi conhecido por seu posicionamento político nas suas manifestações, performances e composições. O vocalista Nasi é filiado ao PCdoB, enquanto o guitarrista Edgard Scandurra tem ligação com o PSOL. Com mais de 40 anos de carreira, o grupo se destaca por suas letras que denunciam violência, corrupção, opressão e desigualdade social. No entanto, ainda há quem consuma sua música sem refletir sobre o conteúdo de suas mensagens.

Na última sexta-feira (29), durante um show em Contagem (MG), Nasi entoou os primeiros versos da canção “Rubro Zorro” — “O caminho do crime lhe atrai” — e foi surpreendido por um coro uníssono da plateia que completou: “Sem anistia”. O diálogo espontâneo com o público fez com que o vocalista seguisse com uma provocação política: ele cantou, alterando a letra da música “Advogado do Diabo”, substituindo “pequeno” por “Supremo” e cantou: “Atire a pedra no Supremo e um dia você vai se queimar”.

A intervenção de Nasi deixou o público ainda mais empolgado.

No final da apresentação, o cantor voltou a gritar “Sem anistia” e foi amplamente aplaudido, mas um pequeno grupo vaiou, o que provocou uma reação direta de Nasi: “Pra vocês que estão vaiando, eu vou falar uma coisa pra vocês: tem gente que acompanha o Ira!, mas nunca entendeu o Ira! Nunca entendeu o Ira! Tem gente que acompanha a gente e é reacionário, tem gente que acompanha o Ira! e é bolsonarista, isso não tem nada a ver, gente! Por favor, vão embora! Vão embora da nossa vida! Vão embora e não apareçam mais em shows, não comprem nossos discos, não apareçam mais. É um pedido que eu faço.”

Apesar da contundência do discurso, Nasi relatou ao DCM que o clima no pós-show foi tranquilo. Segundo ele, filas se formaram com fãs pedindo autógrafos, fotos e conversando com os integrantes da banda, sem qualquer registro de conflitos.

“Não me arrependo do que falei, mas, talvez eu falasse de outro jeito se fosse hoje, para evitar que pessoas de direita se sentissem todas incluídas na crítica. Meu alvo eram os extremistas, fascistas, reacionários… Ao longo da semana, fui procurado por centenas de pessoas no Instagram — conservadores, liberais, pessoas de uma direita racional que acompanham e gostam do nosso trabalho. Conversei com todas. É claro que não temos qualquer objeção a essas pessoas, o recado não era para elas”, diz.

“Quando gritei ‘Sem anistia’, a imensa maioria do público respondeu junto. Um pequeno grupo começou a vaiar, e isso me irritou. Então desabafei, dizendo que essas pessoas não compreenderam nossa música nem a nossa trajetória. Eu não expulsei ninguém do local. Se extremistas quiserem comprar ingressos para nossos shows, não há muito o que eu possa fazer. Mas deixei claro: se têm esse tipo de pensamento, que deixem de consumir a nossa música. Eu não quero ver um reacionário vestindo a camiseta do Ira!, não quero.”

O caso se assemelha ao ocorrido com Roger Waters, do Pink Floyd, que em 2018 fez críticas a Bolsonaro e, ao receber ataques por isso, sugeriu que aqueles que não compreendessem sua posição fossem para o bar, já que não conheciam a sua história nem a do Pink Floyd.

Após o episódio, a produtora Scar Centro Cultural anunciou o cancelamento de quatro shows da turnê do Ira! na região Sul. As apresentações estavam previstas para Jaraguá do Sul (SC), Blumenau (SC), Caxias do Sul (RS) e Pelotas (RS). Em nota, a produtora justificou a decisão devido a uma série de pedidos de cancelamento de ingressos. Segundo Nasi, o cancelamento foi acordado entre a banda e a produtora para evitar maiores prejuízos.

“Em breve, voltaremos a essas cidades, em condições mais adequadas e sem esse tipo de situação desagradável. Faremos o anúncio no momento certo, pelas nossas redes sociais. Esses extremistas representam, no máximo, 20% da população brasileira — o problema é que são muito barulhentos. Isso não é novidade na história do Ira!, já enfrentamos perseguições antes por conta de nossas manifestações políticas. O que me surpreende é que ainda exista gente que não conheça ou entenda o nosso posicionamento”, afirma.

“O Ira! sai mais forte dessa situação. Já temos mais de 50 shows agendados para a temporada de 2025, e ainda estamos em abril. Outros shows virão, e vamos divulgar tudo nas nossas redes sociais, chamando o público para as apresentações. Não fiz isso como uma estratégia de marketing, nem nada disso. O Edgard até brincou comigo: ‘Pô, Nasi, quando for assim, me avisa’, mas eu expliquei que não planejei nada, foi algo mais forte do que eu. O bom é que, no final, o tiro desses caras sempre sai pela culatra.”

Thiago Suman
Jornalista com atuação em rádio, TV, impresso e online. É correspondente do Daily Mail, da Inglaterra, apresentador do DCMTV e professor de filosofia e sociologia, além de roteirista de cinema e compositor musical premiado em festivais no Brasil e no mundo