O jatinho de Huck cheira a fraude. Por Luís Felipe Miguel

Atualizado em 12 de fevereiro de 2018 às 21:33

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O discurso do combate à corrupção tem três vantagens para a direita. Primeiro, desvia a atenção dos conflitos centrais da sociedade. Como consequência, contrabandeia a ideia de que nossos problemas se devem à ação de alguns “frutos podres” e, uma vez que eles sejam eliminados, o sistema passará a operar de maneira virtuosa. Por fim, abre caminho para a demonização do Estado, que aparece como único local em que a corrupção ocorre.

Mas há um problema: a própria elite política da direita costuma ser imensamente corrupta. É necessário um esforço gigantesco de mascaramento para que seus líderes possam parecer como limpos e algum dia a fachada acaba por cair (que o diga Aécio Neves). Por isso, é frequente a busca do outsider, aquele que teria condições de encarnar com alguma verossimilhança, pelo menos por algum tempo, o discurso da moralidade. Foi esse o papel de Collor, em 1989. O exemplo basta para mostrar qual é o estofo desejado para a personagem.

Quando a periferia da elite política conservadora também já está chamuscada demais, o negócio é buscar “o novo”. Daí aparece o empresário, o apresentador de TV. O problema é que eles também duram pouco. Ficam expostos ao “fogo amigo”, no momento em que a direita ainda disputa a escolha de seu candidato, e logo revelam seus pés de barro.

Como ocorreu agora com o jatinho de Huck, adquirido com juro subsidiado, em negócio que só pode ser caracterizado como fraudulento: usou linha de financiamento destinada a alavancar o setor produtivo. Uns poucos minutos de exposição ao sol já colocaram o novo pupilo de FHC em má situação para assumir a posição de paladino da ética, aquele que estaria predestinado a unir os “homens de bem” contra os malvados.