O jornalismo, a política e a desigualdade social segundo George Orwell

Atualizado em 21 de novembro de 2012 às 20:38
"Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros"

Em tempos de internet, redes sociais e uma mídia cada vez mais distante da “voz rouca das ruas”, George Orwell, escritor do clássico iconoclasta 1984, fala sobre liberdade, mídia, política e desigualdade social. É mais um capítulo de nossa série de “Conversas com Escritores Mortos”.

Mr. Orwell, certamente o senhor tem consciência da importância do seu legado literário. Qual sua impressão sobre isso?

Quando se diz que um escritor está na moda, isso quer dizer que ele é admirado por menores de trinta anos.

Belo início de conversa… Mas o senhor há de convir que muitos dos seus leitores têm mais idade que isso. Qual o segredo de tanto sucesso?

Os melhores livros são os que nos contam aquilo que já sabíamos.

Não deixa de ser verdade. Mas, e se esta afirmação fosse aplicada à imprensa, sobretudo ao jornalismo hodierno?

Jornalismo de verdade é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade. E publicidade não é mais do que o ruído de um pau a bater na caldeira.

Mas o que acontece é justamente o contrário…

Entendo que numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário. Infelizmente o que vemos é que a massa mantém a marca, a marca mantém a mídia e a mídia controla a massa.

Isso soa um tanto opressor e sinistro. É como se não houvesse esperança de liberdade. Falando sobre isso – liberdade – é possível “estar” livre?

Os sentimentos elevados vencem sempre no final; os líderes que oferecem sangue, trabalho, lágrimas e suor conseguem sempre mais dos seus seguidores do que aqueles que oferecem segurança e diversão. Além do mais, se a liberdade significar alguma coisa, será, sobretudo, o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir.

Mas a impressão que se tem é que somos circundados por uma sensação de controle total. Como é possível livrar-se disso?

Sobre isso um aspecto serve de alento: podem desnudar, nos mínimos detalhes, tudo quanto você tem feito, dito ou pensado; mas o imo do coração, cujo funcionamento é um mistério para o próprio indivíduo, continuará inexpugnável.

Em sua opinião, qual seria a causa de tanta desigualdade social?

Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros. O problema é que alguns poucos descobriram que quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente, controla o passado.

Interessante… isso que o senhor disse me fez pensar na forma de política de dominação praticada pelos Estados Unidos. Por falar em pensamento político, algo a dizer?

A linguagem política destina-se a fazer com que a mentira soe como verdade e o crime se torne respeitável, bem como a imprimir ao vento uma aparência de solidez.

Concluindo nossa entrevista, o senhor acredita que possa existir uma solução para a abjeta teoria de vencedores e vencidos, tão comum na política americana?

Para isso basta retirar-se da cena o Homem e a causa principal da fome e da sobrecarga de trabalho desaparecerá para sempre.

Pê é piauiense, e vive em Juazeiro, na Bahia, cidade que ele aprendeu a amar e a fotografar. Assim ele se define: "Músico por paixão, contador de histórias baratas, ainda que verossímeis, e amante de páginas bem escritas e de conversa jogada fora ".