O jornalismo da Globo e a tropa de choque: cada um a seu modo, gostam de sangue. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 8 de abril de 2018 às 11:30
A tropa de choque do Brasil: eles querem sangue

Há mais semelhanças do que se imagina entre a jornalista da Globonews Cristiana Lobo, que estranhou a falta de esculacho na prisão do ex-presidente Lula, e a violenta repressão da PM do Paraná a uma manifestação pacífica em frente à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.

A todos eles, falta uma boa dose de civilidade.

Cristiana postou no Twitter comentário sobre o comportamento dos policiais que levaram Lula a Curitiba sob custódia.

— Para quem não se lembra, em casos de outros presos, agentes da PF usavam uniforme e colete caracterizados. Os presos eram obrigados a colocar as mãos para trás, o que não aconteceu com Lula — escreveu a jornalista.

— Agentes da PF usaram terno preto para receber o ex-presidente Lula que chegava de helicóptero à sede da PF em Curitiba. Lula desceu sozinho, sem a mala com a qual embarcou em Congonhas — disse ainda.

Esta é uma das mulheres que costumam aparecer na Globonews para dizer: “Concordo com o Merval”, “Como disse o Merval”e por aí vai — Merval é uma espécie de ideólogo do Grupo Globo.

Enquanto Cristiana Lobo manifestava surpresa quanto à ação discreta da PF — fruto de um acordo que, como se sabe, Lula cumpriu, para contrariedade dos manifestantes que queriam impedir sua saída do sindicato —, a PM do governo tucano do Paraná descia o cacete em manifestantes pacíficos.

O Globo, jornal onde Cristiana Lobo aprendeu a trabalhar, mentiu ao dizer que houve confronto, que os manifestantes tentaram invadir a Superintendência da Polícia Federal.

“Fiquei assim com o rosto queimando, quase morrendo sufocada, com as bombas que vieram em cima da gente. Nós estávamos olhando o helicóptero chegando e gritando ‘Lula guerreiro do povo brasileiro’. Tinha crianças, idosas, a gente estava pacificamente olhando para cima, nós não estávamos invadindo nada”, contou uma senhora sobre o ataque da PM.

Muito diferente do relato feito pelo jornal da família Marinho, escola de Cristiana:

“O tumulto começou quando o helicóptero que trazia o ex-presidente pousava no heliponto da PF. Segundo o comandante do 20º Batalhão da Polícia Militar de Curitiba, tenente-coronel Mário Henrique do Carmo, o estopim foi a explosão de duas bombas onde estavam os manifestantes favoráveis ao petista. O comandante afirmou que a Polícia Federal reagiu com gás lacrimogênio.

Em seguida, manifestantes decidiram atirar pedras e paus contra os policias militares que estavam no local. Um deles foi ferido com um soco no rosto. Os PMs então revidaram com tiros de bala de borracha para dispersar a confusão. Carmo afirmou que, apesar do tumulto, o esquema de segurança era adequado para a situação.”

Pode-se objetar que ambos os relatos são parciais, mas, a favor da versão dos manifestantes, está a descrição que um repórter da Folha de S. Paulo, Felipe Bächtold, presente no local para cobertura dos fatos:

“Manifestação de apoiadores de Lula é dispersada com bombas de gás lacrimogêneo em um dos acessos da PF na hora em que o helicóptero pousou.

Ação da PM no momento em que o helicóptero pousava surpreendeu centenas de apoiadores de Lula no acesso da PF. Sem alerta, foi disparada uma sequência de bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo.

Houve correria e os manifestantes se dispersaram. A PM permanece perfilada em uma rua nas proximidades e parte dos manifestantes segue no local. Não houve violência por parte dos manifestantes antes da ação.

Muitos se penduravam na grade da superintendência, mas a PM não havia feito alertas. Os simpatizantes planejavam manter uma vigília com barracas em um dos acessos da PF.”

Se não serve o relato do repórter, veja-se o vídeo gravado por um jornalista do Mídia Ninja. Exatamente como descreve a mulher que sofreu com as bombas de gás. Olhavam para cima, gritavam palavra de ordem quando uma bomba foi jogada no meio dos manifestantes.

A escola em que Cristiana Lobo foi formada já não tem a hegemonia da narrativa, porque hoje, graças à mídia independente viabilizada pela internet, é possível ver que os fatos não se deram como contados por ela, a velha imprensa.

Mas essa escola ainda influi, e muito, porque fornece o argumento — e a justificativa moral — para quem faz do arbítrio e da truculência um meio de vida.

Pode ser um soldado da tropa de choque ou um ministro do Supremo Tribunal Federal.

Não importa.

Eles esmagam a lei porque sabem que, logo, estará lá um veículo da família Marinho para lhes dar razão ou, no mínimo, atenuar o impacto negativo da repercussão.

Dizer, por exemplo, que houve confronto quando, na verdade, ocorreu o abuso.