O jornalismo inventa cada uma. Por Moisés Mendes

Atualizado em 3 de setembro de 2025 às 23:02
Jornalista Vera Magalhães. Foto: Reprodução

O jornalismo das corporações continua sendo protagonista da política no Brasil, muitas vezes da pior forma possível.

Vera Magalhães, colunista do Globo, escreve o seguinte, no início da tarde dessa quarta-feira, logo depois do encerramento da apresentação das teses da defesa:

“Ministros consideraram que a sustentação (do advogado do general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa), à parte os aspectos curiosos como a menção à sogra do advogado, foi boa. E dizem que vão aguardar o voto do relator, Alexandre de Moraes, em relação ao general Paulo Sérgio antes de firmar um juízo”.

O título da coluna é esse: “Chance de absolvição?” Vera levanta a hipótese a partir das tais conversas. É um indelicadeza com todos os ministros da primeira turma.

Até o estagiário do Supremo está sob tensão nesse julgamento. O estagiário sabe que não deve especular muito em voz alta, em lugar algum, sobre as possibilidades de desfecho do processo.

O estagiário sabe que os ministros não conversam nem entre eles numa hora dessas. São cinco ministros preocupados em não permitir o vazamento de nada que possa ser percebido como sinal nessa ou naquela direção.

E aí a jornalista do Globo publica uma nota em que informa que “ministros consideraram”, assim mesmo, no plural, que o advogado se saiu bem.

Imaginem, que, ao final de um dia e meio de sessões tensas, os ministros iriam dizer alguma coisa a Vera Magalhães, que pudesse sinalizar alguma coisa?

Os ministros André Mendonça, Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Dias Toffoli e Gilmar Mendes. Foto: Nelson Jr./SCO/STF

Ela estava em Brasília? Teriam dito presencialmente? Por telefone? Por whats? Por-email? Por favor.

É claro que todo mundo especula, principalmente nos jornalões. Chutam que o ex-ministro da Defesa pode ser absolvido. Que Augusto Heleno também pode ou que talvez tenha uma pena branda. No chute, alguém vai acertar.

Mas daí a dizer que, ao final de uma de uma sessão em que nem um mosquito chega perto do plenário, ministros saíram sugerindo que um réu pode escapar. Aí é demais.

POBRES
Revelações de Demóstenes Torres, advogado de defesa do almirante Almir Garnier, e de
Eumar Novacki, advogado de Anderson Torres: os dois são tão pobres que não tinham como pagá-los.

Torres disse que até cobrou alguma coisa, e Novacki confessou que está trabalhando pro
bono, pela causa, sem ganhar um pila.

Nenhum desses réus ganha menos de R$ 30 mil por mês.

FRACOS
Fica mais forte, no segundo dia do julgamento, a sensação de que os golpistas contrataram oradores precários.

Onde foram parar os grandes tribunos das defesas orais de grandes bandidos?
O TikTok matou até a estrutura oratória de quem precisa da palavra falada para argumentar ou para enrolar?

Ou esse tipo de teatro, com um advogado gritando, perdeu sentido?

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/