
O jornalismo das corporações continua sendo protagonista da política no Brasil, muitas vezes da pior forma possível.
Vera Magalhães, colunista do Globo, escreve o seguinte, no início da tarde dessa quarta-feira, logo depois do encerramento da apresentação das teses da defesa:
“Ministros consideraram que a sustentação (do advogado do general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa), à parte os aspectos curiosos como a menção à sogra do advogado, foi boa. E dizem que vão aguardar o voto do relator, Alexandre de Moraes, em relação ao general Paulo Sérgio antes de firmar um juízo”.
O título da coluna é esse: “Chance de absolvição?” Vera levanta a hipótese a partir das tais conversas. É um indelicadeza com todos os ministros da primeira turma.
Até o estagiário do Supremo está sob tensão nesse julgamento. O estagiário sabe que não deve especular muito em voz alta, em lugar algum, sobre as possibilidades de desfecho do processo.
O estagiário sabe que os ministros não conversam nem entre eles numa hora dessas. São cinco ministros preocupados em não permitir o vazamento de nada que possa ser percebido como sinal nessa ou naquela direção.
E aí a jornalista do Globo publica uma nota em que informa que “ministros consideraram”, assim mesmo, no plural, que o advogado se saiu bem.
Imaginem, que, ao final de um dia e meio de sessões tensas, os ministros iriam dizer alguma coisa a Vera Magalhães, que pudesse sinalizar alguma coisa?

Ela estava em Brasília? Teriam dito presencialmente? Por telefone? Por whats? Por-email? Por favor.
É claro que todo mundo especula, principalmente nos jornalões. Chutam que o ex-ministro da Defesa pode ser absolvido. Que Augusto Heleno também pode ou que talvez tenha uma pena branda. No chute, alguém vai acertar.
Mas daí a dizer que, ao final de uma de uma sessão em que nem um mosquito chega perto do plenário, ministros saíram sugerindo que um réu pode escapar. Aí é demais.
POBRES
Revelações de Demóstenes Torres, advogado de defesa do almirante Almir Garnier, e de
Eumar Novacki, advogado de Anderson Torres: os dois são tão pobres que não tinham como pagá-los.
Torres disse que até cobrou alguma coisa, e Novacki confessou que está trabalhando pro
bono, pela causa, sem ganhar um pila.
Nenhum desses réus ganha menos de R$ 30 mil por mês.
FRACOS
Fica mais forte, no segundo dia do julgamento, a sensação de que os golpistas contrataram oradores precários.
Onde foram parar os grandes tribunos das defesas orais de grandes bandidos?
O TikTok matou até a estrutura oratória de quem precisa da palavra falada para argumentar ou para enrolar?
Ou esse tipo de teatro, com um advogado gritando, perdeu sentido?