O julgamento e o golpe dentro do golpe

Atualizado em 4 de setembro de 2025 às 10:22
O ex-presidente Jair Bolsonaro durante julgamento no STF sobre a trama golpista. Foto: Reprodução

O julgamento de Bolsonaro e, mesmo, o próprio governo Lula ocorrem sob os auspícios institucionais do golpe de 2016. Este golpe instituiu uma série de reformas institucionais que transformaram o neoliberalismo em política oficial de Estado. Ou seja, desde então o Brasil se transformou em uma ditadura da mais-valia absoluta.

A prisão de Bolsonaro, a pressão pela taxação dos super-ricos e a onda nacionalista que se espraia pelo país são uma ameaça real ao estado de coisas imposto com o golpe de 2016. O campo popular recuperou a iniciativa política. O governo saiu das cordas e Lula passou a ser o favorito às eleições de 2026.

A burguesia rapidamente está se recompondo com a escolha por Tarcísio de Freitas como seu candidato, que, por sua vez, segundo o próprio Lula, “não é ninguém sem Bolsonaro”. Conquistar a confiança do chefe passou a ser fundamental às suas pretensões. Nesse meio-tempo, União Brasil, PP e Republicanos desembarcaram do governo. A frente ampla vai se desmanchando.

Tarcísio passou a correr o Brasil e forçar o presidente da Câmara a pautar a anistia. Motta aceitou esse “pedido”. Com maioria formada em torno da anistia, uma crise institucional está na ordem do dia, com o STF declarando a inconstitucionalidade da matéria. Até aí, perdemos o fundamental: a iniciativa política.

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos), e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Foto: Reprodução

O país já está sob ampla intervenção estrangeira, com Trump operando por nossas bandas e a direita se recompondo em torno de Tarcísio. Isso pode ser o sinal de alerta de que a grande finança e o imperialismo estão dispostos a “acabar com a brincadeira” progressista na América do Sul e restabelecer de vez as Américas como quintal e área de influência.

Um golpe dentro do golpe está na ordem natural dos acontecimentos. A luta pela soberania precisa se materializar sob a forma de mais amplitude política, tirocínio estratégico e cuidado.

O inimigo é poderoso, mais forte do que nós.

A palavra de ordem é clara: eles querem terminar o serviço e vender o Brasil.

Elias Jabbour
Doutor e mestre em Geografia Humana pela FFLCH-USP. É professor dos Programas de Pós-Graduação em Relações Internacionais (PPGRI) e em Ciências Econômicas (PPGCE) da UERJ