O leitor da Veja e o sonho de ver na revista o Lulão todo dele. Por Tarso de Melo

Atualizado em 5 de maio de 2018 às 19:06

Fico imaginando o assinante da Veja. Branco, classe média, um tanto instruído. Ele acorda no sábado e pega a revista: detalhes sobre o primeiro mês de Lula na prisão. Ele se excita. Em direção ao banheiro, começa a lembrar que, quando decidiu assinar a revista, a capa garantia que o PT perderia a eleição presidencial.

Era 2002 ou 2006 ou 2010 ou 2014.

Não foi bem assim.

Mas garantiu que, numa ou noutra conversa, ele dissesse “eu li na Veja que…” e se sentisse forte com isso. Pelo menos até o domingo. 48 horas de prazer.

Mas agora, enfim, chegou o momento: anos pagando para ler sobre a vida de Lula na prisão. Lula sofre muito? “Ainda é pouco!” Lula sofre pouco? “Absurdo!”.

Anos e anos investindo numa revista que, enfim, mostra Lula na prisão. Ele lamenta que a capa seja uma ilustração, que a cela seja meramente ilustrativa, que a fotonovela seja história em quadrinhos.

Queria mesmo era ver a cara de Lula na cela. Queria Lula inteiro. Queria um pôster de Lula de uniforme em tamanho natural. Queria ver Lula malhando na cela. Lula suado, os bíceps de Lula, os tríceps do cara do tríplex. Com grades, grossas grades. Queria detalhes de Lula. O pijama de Lula, a privada de Lula, a cama de Lula, a barba de Lula, o olhar de Lula, o umbigo de Lula. Saber com quem Lula fala, ouvir a voz de Lula preso, saber do que Lula fala.

Não foi desta vez, mas tudo bem.

Outro boleto da Veja vai chegar e ele vai pagar. Antes de dar descarga, ele imagina uma promoção para antigos assinantes: ganhar um boneco inflável do Lula. Não qualquer pixuleco. Um Lulão da porra. Um Lulão todo seu.