O levante na Universal em Angola desperta uma questão: a Igreja é de Deus ou de Edir Macedo?

Atualizado em 11 de julho de 2020 às 11:11

Reportagem exibida pelo Jornal da Record diz que até casas de pastores da Universal do Reino de Deus em Luanda e outras cidades de Angola estão sendo invadidas.

A emissora, de propriedade de Edir Macedo, defende os interesses da igreja, que é também propriedade de Edir Macedo. E aí começa uma discussão legítima.

A quem pertence a Igreja? Teologicamente, diz-se que seria de Deus, mas, no mundo das coisas concretas, quem é o seu controlador?

Uma pessoa física, como Edir Macedo? Não deveria ser, já que igreja tem imunidade tributária justamente por não ser considerada um empreendimento privado.

A igreja pertence a seus membros, que a sustentam com dízimos e ofertas.

A reportagem não diz, mas os angolanos parecem justamente reivindicar o direito que têm, como membros, de controlar a sua igreja.

Em um trecho, a reportagem diz que o levante na igreja está sendo feito por antigos companheiros. Portanto, membros da igreja.

“Esses homens já foram companheiros nossos aqui de trabalho. É uma sensação de decepção em relação a eles”, disse o pastor Israel Gonçalves, leal a Edir Macedo.

A reportagem, depois de dar voz a políticos brasileiros com óbvio interesse de agradar o conglomerado de mídia e igrejas, dá espaço para Paulo Skaf, presidente da Fiesp e também politico ligado à extrema direita.

Aí chega a ser quase cômico. A fala de Skaf tenta comparar uma iniciativa religiosa a um empreendimento privado, como uma fábrica de agulhas.

“Ninguém investe em um país que não tenha segurança jurídica. Ninguém investe num país com risco de perder seu investimento”, diz ele.

Ora, se a igreja é um investimento, que pague imposto devido. Mas fica a pergunta: quantas agulhas a Universal do Reino de Deus produz em Angola?

Nada, ela constrói um tempo, vende uma mercadoria sem custo — a palavra bíblica — e tira dinheiro dos moradores de Angola, seja na forma de dízimo ou oferta.

Esta é a realidade. O que a Record faz é levantar uma cortina de fumaça, contando com a ajuda do líder de uma entidade empresarial que, assim como Edir Macedo, não é conhecido por produzir nada, faz apenas discurso.