O livro de Piketty, “O Capital no Século XXI”, está cheio de erros?

Atualizado em 28 de maio de 2014 às 12:15
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Piketty

 

Na última sexta-feira, o Financial Times publicou o que se pretendia um tiro letal no economista francês Thomas Piketty, autor do livro sensação “O Capital no século XXI”. De acordo com o autor do artigo, Chris Giles, a obra estava cheia de erros e dados manipulados ou inventados. Giles escreveu: “As conclusões não parecem ser apoiadas pelas próprias fontes do livro”.

Mas o que prometia ser a decretação do fim de um best seller se mostrou uma decepção. Giles foi acusado de fazer o mesmo que acusou: espremer dados para chegar a uma conclusão bombástica.

Piketty admitiu ajustes, mas disse à Newsweek que Chris Giles armou-lhe uma “emboscada”, sem dar-lhe tempo de responder a questionamentos complexos. A Economist também refutou as críticas do FT, assim como diversos economistas. “O senhor Giles não tem evidências suficientes para justificar que os dados tenham sido ‘fabricados'”, diz a revista.

“Qualquer pessoa que imagine que a noção de aumento da desigualdade foi refutada certamente vai se decepcionar”, escreveu Paul Krugman. Além dele, economistas e jornalistas da área saíram em defesa do fato de que a tese central de “O Capital no Século XXI” não mudou.

Abaixo, o artigo de Matthew O’Brien no Washington Post:

 

As dez palavras mais terríveis para um pesquisador são: “Você cometeu erros na planilha eletrônica como Reinhart e Rogoff”. Mas isso é o que Chris Giles, do Financial Times, pensa que o economista rockstar Thomas Piketty fez, entre outros erros, em seu livro inovador, “O Capital do Século XXI”.

Quão sérios são esses problemas? E quanto eles devem mudar o que pensamos sobre a desigualdade?

Bem, a resposta parece não ser muito grave, com exceção dos números britânicos recentes. Giles identifica três tipos básicos de questões. A primeiro são os erros de transcrição simples. Ele acha, por exemplo, que Piketty incluiu acidentalmente dados de riqueza da Suécia de 1908 em vez de 1920. 

Mas, além desse erro, Giles conclui que “parece haver alguns problemas com as escolhas feitas pelo Prof Piketty para a Suécia”, que você pode ver no gráfico de Giles abaixo, comparando seus cálculos corrigidos (vermelho) com os dados de Piketty (azul).

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Em outras palavras, existem erros e eles são embaraçoso, mas não mudam o quadro geral.

A outra preocupação é metodológica. Giles pensa que Piketty deve usar a média de dados da Europa por população e não por país. Ele não gosta que Piketty rotule dados de 2004 como “2000”. E Giles não está certo do motivo por que Piketty reuniu alguns de seus dados sobre riqueza — que precisam ser ajustados, se não reconstruídos — da maneira como fez. Mas estes não são erros. São questionamentos. Aqueles que Piketty deve responder, mas ainda assim apenas questionamentos.

A última questão é mais significativa. Giles aponta que Piketty parece ter misturado diferentes fontes sobre a riqueza britânica nas últimas décadas e superestimou a desigualdade. Você pode ver os números de Piketty (azul) contra os dados brutos (vermelho)  abaixo. Isto precisa de ser explicado .

 

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Mas esta não é uma situação Reinhart e Rogoff [a dupla de economistas foi desacreditada pelas falhas do estudo “Crescimento em Tempo de Dívida”]. Seus erros do Excel realmente mudam suas conclusões. 

Não é o caso de Piketty. A menos que, como Giles, você trace a média da desigualdade por população ao invés de por país – o que é discutível, na melhor das hipóteses, uma vez que Piketty está apenas preocupado com a desigualdade dentro dos países.

Ainda assim, é mais um lembrete de que a economia é a ciência menos exata. É por isso que é fundamental para os estudiosos tornar públicos seus dados, para que todos possam checar e rechecar. Para seu crédito, Piketty fez exatamente isso. Agora ele deve nos contar um pouco mais sobre seus métodos. (E não se preocupe, isso não vai nos aborrecer. Já estávamos dispostos a encarar 700 páginas sobre a história da desigualdade.)