O livro de um coronel que forneceu a Bolsonaro a “visão” sobre os yanomamis

Atualizado em 24 de janeiro de 2023 às 10:40
O livro que inspirou a visão de Bolsonaro sobre os yanomamis

A visão canalha de Bolsonaro sobre os Yanomamis vem, principalmente, de uma fonte militar específica.

Trata-se de um livro escrito pelo coronel Carlos Alberto Lima Menna Barreto e lançado nos anos 90 pela editora Biblioteca do Exército.

A obra fez a cabeça de toda uma geração de soldados que tomavam água da privada. Olavo de Carvalho a citava e recomendava.

Menna Barreto, militar gaúcho que exerceu os cargos de Comandante da Fronteira no governo Médici (1969-1971) e Secretário da Segurança de Roraima (1985-1988), produziu um teoria conspiratória debilóide que conquistou corações e mentes.

A patacoada é a seguinte: os indígenas que, alegadamente, fariam parte dessa “nação” pertenceriam a troncos linguísticos distintos, inimigos há séculos.

Por trás de tudo estaria a fotógrafa suíça, naturalizada brasileira, de origem judaica (não poderia faltar o elemento semita, evidentemente) Claudia Andujar. Em 1973, Claudia fotografou os Yanomami pela primeira vez para uma edição especial da revista Realidade dedicada à Amazônia.

As imagens correram o mundo. Ela retratou os Yanomami em suas casas coletivas (yano) e os acompanhou na floresta para registrar diversas atividades, como coleta de frutas ou expedições de caça coletiva.

Tudo cascata, segundo o coronel.

“Ao misturar índios de diferentes grupos na mesma reserva, o Governo federal, ao invés de preservar suas respectivas culturas, condenou-as à extinção. E não havendo mais índios a proteger, ou levam outros índios para lá, ou arranjam outra desculpa para separar Roraima aquele pedaço”, escreve.

ONG’s, diz ele, movidas por interesses internacionais numa estratégia conjunta de propaganda e militância de defesa cultural, contando com a ignorância da maioria da população, tentam demarcar áreas de proteção e preservação com tamanhos maiores que países da Europa.

O príncipe Charles — hoje rei — estava no meio da pajelança.

Estratégia para a futura internacionalização das terras ao norte do Brasil? Interesse em uma futura extração de minérios na região? Zoológico antropológico? Qual o verdadeiro intuito daqueles que tentam a todo custo minar a soberania do Brasil?

O que tem ali? Resposta: nióbio. Sim, o velho nióbio que Jair Bolsonaro vivia vendendo.

É de se perguntar como é que sobrevivemos a um demente que acreditava nisso. O Brasil é um fenômeno. Somos indestrutíveis.

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.