“O livro para acabar com todos os livros”: um novo capítulo da história de como Ian Fleming criou 007

Atualizado em 21 de novembro de 2012 às 20:34

Quase o primeiro Bond acabou na cesta de lixo por sugestão da namorada do autor
 

Casino Royale foi primeiro adaptado pela tv americana -- e fracassou

Seguimos aqui com com o segundo capítulo da saga de Ian Fleming na criação de James Bond. Você pode clicar aqui para ver o primeiro capítulo. O autor é o consagrado Marquezi. Dagomir Marquezi.

Ian Lancaster Fleming nasceu no dia 28 de maio de 1908 em Mayfair, a Wall Street de Londres (o sobrado ainda está em pé). Seu avô, banqueiro escocês, havia garantido o conforto da família por gerações. O pai, Valentine, foi herói na Primeira Guerra. Peter, o irmão mais velho, era bem sucedido em tudo que pudesse agradar ao pai: finanças, esportes, carreira militar.

Ian Lancaster, o segundo de quatro irmãos, era bonitão, charmoso e culto. Conquistava e dispensava mulheres em fila. Durante a Segunda Guerra, alistou-se na Marinha britânica e se tornou um respeitado chefe de inteligência no hoje lendário 30 Assault Unit. Fleming foi um pioneiro na área, criando um grupo compacto e versátil de comandos – como os SEALS. Uma das missões o levou a passar meses na Jamaica vigiando a possível presença de submarinos nazistas. E ele se apaixonou pela ilha.

Com o fim da guerra, sua carreira como oficial de Inteligência Naval foi abortada. O Comandante voltou meio a contragosto ao jornalismo. Mas já tinha na cabeça um plano ousado: escrever “o livro de espionagem para acabar com todos os livros de espionagem”. Para isso, garantiu um salário regular numa agência de notícias em Londres. No contrato, uma condição: a cada ano, durante janeiro e fevereiro ele estava livre para viajar.

O plano continuou em 1946 quando Fleming comprou um terreno no alto de uma encosta em Oracabessa, na costa norte da sua amada Jamaica. Pagou 2 mil libras pelo terreno. E gastou outras 2 mil para construir uma casa ampla, arejada, e muito simples. Batizou a casa com o nome-código de uma das suas missões durante a Segunda Guerra: Goldeneye.

E assim, de 1946 até o fim da vida, Ian Fleming passou os dois primeiros meses de cada ano em sua casa jamaicana. Goldeneye virou um ponto de referência para visitantes ilustres da nata literária e artística londrina. O Comandante levava também mulheres, que trocava a cada ano.

Nos 5 primeiros anos não escreveu nada muito significativo. Mas um agente secreto começava a se materializar. E era muito parecido com o Comandante. Para batizar seu espião fictício, Fleming queria o nome mais comum possível. Emprestou de um especialista em aves caribenhas muito prestigiado mas sem nenhum charme chamado James Bond.

Em março de 1952 Casino Royale estava pronto. Uma ex-namorada leu e sugeriu que os originais fossem jogados no lixo. Fleming insistiu. Em 1953 foi publicado na Inglaterra e bem aceito por críticos e amigos literatos. Mesmo assim, não estourou em vendas. Dois anos depois foi pobremente adaptado para a TV americana. Fleming desanimou, mas nunca mais deixou de ir até a Jamaica a cada janeiro para escrever outro livro: Casino Royale, Live and Let Die, Moonraker, Diamonds are Forever, From Russia With Love, Dr No, Goldfinger

A SEGUIR, o CAPÍTULO 3: “WELCOME TO GOLDENEYE”


Matéria publicada originalmente na revista VIP. Dagomir Marquezi pode ser encontrado no endereço dagomir.blogspot.com.br.