O Lobo Mau, os Três Porquinhos e o jornal inglês

Atualizado em 1 de junho de 2013 às 18:34

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O novo filme publicitário do Guardian, o melhor jornal inglês com seu sotaque levemente de esquerda, é tão bom que me remeteu à maior de todas as campanhas feitas por uma publicação, a da revista Rolling Stone há cerca de 40 anos.

Eram os anos de ouro do papel, e a Rolling Stone lutava contra a imagem de uma revista de hippies anticonsumistas. Isso lhe custava muito no campo das receitas de publicidade. A RS era magra como aquelas pessoas que você via nas fotos de Woodstock.

Foi quando veio a campanha “Percepção X Realidade”. Com grandes fotos e informações sintéticas e convicentes, a RS mostrou que a percepção de uma revista de hippies era desconectada da realidade. O leitor andava em carros novos, viajava, comprava produtos caros – enfim, tinha todos aqueles atributos que décadas depois levariam os Estados Unidos a um hiperconsumismo que o arruinaria.

A campanha foi um sucesso. Virou um clássico, não apenas da inteligência mas dos resultados. A fina RS ganhou um peso considerável.

A campanha clássica da Rolling Stone

O filme do Guardian chega em outro momento, em plena Era Digital. No Reino Unido, as tiragens dos jornais vão minguando num processo lento, seguro e gradual.

Mas que filme.

Você vê a história do Lobo Mau e dos Três Porquinhos contada, inicialmente, sob a ótica do poderoso. Depois, o Guardian investiga o caso e mostra que a vítima, na verdade, são os porquinhos.

No Reino Unido, o Guardian tem sido um contraponto ao “Lobo Mau” – o magnata Rupert Murdoch. Foi o Guardian que denunciou os crimes cometidos pelo tablóide News of the World, de Murdoch, na ânsia de conseguir furos. O jornal violava caixas de mensagens de milhares de pessoas, sobretudo – mas não apenas – celebridades.

A trajetória de Murdoch, quando contada pelos historiadores no futuro, se divide entre antes das denúncias do Guardian e depois. O News of the World fechou, e agora as indenizações das vítimas de invasão telefônica ilegal parecem uma torneira aberta da qual vai saindo dinheiro de Murdoch, e mais dinheiro.

É bom ver uma campanha como esta do vídeo. A jornalistas que como eu se formaram na Era do Papel, é um reencontro tocante – ainda que fugaz – com um passado glorioso.