O Longo Telegrama

Atualizado em 26 de maio de 2013 às 16:51
O telegrama americano vazou para Stálin

Os 250 000 telegramas americanos expostos pelo Wikileaks não são, por incrível que pareça, o episódio mais espetacular de vazamento de mensagem da diplomacia dos Estados Unidos.

Um único telegrama vazado teve importância histórica na Guerra Fria que opôs Estados Unidos e Rússia depois da vitória dos Aliados em 1945. Foi um tempo em que o mundo parecia correr o risco de extinção sob um conflito nuclear.

A mensagem ficou conhecida como o “longo telegrama”, pela extensão de 8 000 palavras. O autor, George Kennan, era um funcionário da embaixada dos Estados Unidos em Moscou. Era respeitado, mas ainda estava se iniciando na carreira diplomática. Suas reflexões se tornaram a base da política que os Estados Unidos adotariam na Guerra Fria.

Entre os leitores atentos estava Stálin. O governo russo obteve uma cópia do telegrama de Kennan.

Kennan argumentava que não havia o que os Estados Unidos pudessem fazer para acalmar os soviéticos. O mundo hostil era “a única justificativa para uma ditadura sem a qual eles não sabem governar, para crueldades que eles não ousariam infligir, para sacrifícios que eles pedem”.

Stálin, em resposta, mandou que o embaixador russo nos Estados Unidos escrevesse um telegrama no qual acusou o “capitalismo monopolista” americano de “intenções imperialistas”.

“Não haveria mudança na União Soviética até que, depois de sucessivos fiascos, um líder percebesse que aquilo caminho não levava a nada”, escreveu o historiador americano John Lewis Gaddis sobre as idéias de Kennan em seu aclamado livro “ The Cold War” (A Guerra Fria).

O que os americanos deveriam fazer, segundo Kennan, era montar uma ação paciente para “restringir” os avanços russos.

Foi o que eles fizeram.

O que os americanos não fizeram, como mostrou o recente feito do Wikileaks, foi reforçar a segurança da correspondência diplomática.