Mesmo que fosse possível, com todo suporte jurídico e garantias constitucionais (e também políticas), a prisão de Bolsonaro não deve ocorrer logo depois da sua volta ao Brasil.
Antes, será preciso saber com quem Bolsonaro conversará, qual será sua rotina, quem irá visitá-lo sem disfarces e quem irá abandoná-lo.
É preciso dar corda ao sujeito, para ver se ele se enrosca todo e se enforca logo, se tem suporte político para reagir ou se irá se transformar num Eduardo Cunha.
É preciso saber como está o humor do derrotado. Bolsonaro está fragilizado em todos os sentidos, política, moral e fisicamente, e cada vez mais afundado em suspeitas, desde a descoberta da minuta do golpe na casa de Anderson Torres.
Deixem o derrotado voltar, retomar sua rotina e expor seu poder, se é que ainda tem. Bolsonaro pode ser a isca para atrair outros golpistas ainda na moita.
Essa é uma das primeiras dúvidas: os militares irão visitá-lo, como Augusto Heleno e Braga Netto faziam no Alvorada pouco antes do embarque para Orlando?
Os empresários que estiveram ao seu lado até a derrota, participando ativamente do blefe do golpe, irão tentar consolar o líder, ou Bolsonaro foi abandonado por ‘ex-golpistas’ (como se existissem) que agora tentam fazer média com Lula?
Em pouco mais de uma semana ficaremos sabendo quem é o Bolsonaro que estará de volta. É bem provável que esteja virado num traste.
Mas aí valerá a pena prendê-lo? Agora? Pra quê? A prisão do derrotado será um trunfo mais adiante.
QUEM É O AUTOR?
A bronca agora é descobrir quem escreveu a tal minuta, entregou para Anderson Torres, pediu que guardasse no armário do pão, recomendou que ele desmobilizasse as tropas da BM de Brasília e viajasse para se encontrar com o fujão em Orlando, porque o golpe estava na mão e segunda-feira eles tomariam o poder de volta, com o Augusto Heleno montado num cavalo branco com uma bandeirinha na cola.
Quem escreveu aquela minuta?
Publicado originalmente em Blog do Moisés Mendes