O luxo de nunca ouvir “não” num mundo de tantas carências

Atualizado em 5 de outubro de 2025 às 16:41
Concierge particular, o novo luxo dos super-ricos que pode custar até US$ 75 mil. Entenda o que eles fazem

O novo símbolo de status entre os super-ricos não é um carro de luxo nem uma joia exclusiva, mas um concierge particular — serviço que promete resolver qualquer problema, de reservas em restaurantes disputados a entregas internacionais urgentes. Com planos que chegam a US$ 75 mil anuais, empresas como Knightsbridge Circle, Quintessentially e Velocity Black atuam como verdadeiros “gerentes de estilo de vida”, disponíveis 24 horas por dia para atender aos caprichos de seus clientes.

De acordo com Stuart McNeill, fundador da Knightsbridge Circle, a demanda pelo serviço cresceu tanto que sua empresa dobrou a clientela em um ano e planeja abrir novos escritórios em Dallas, Singapura e Riad. “Nós resolvemos problemas”, resume o empresário britânico. Entre as tarefas inusitadas já cumpridas estão transportar um guarda-roupa de Londres para as Maldivas durante o Natal e organizar experiências privadas em museus, como uma visita fora do horário ao Louvre.

As assinaturas variam conforme o nível de exclusividade. A Knightsbridge Circle cobra cerca de US$ 50 mil anuais e limita-se a 120 membros, enquanto a Quintessentially, com milhares de clientes, tem planos entre US$ 12 mil e US$ 44 mil. Já a Velocity Black, adquirida pelo banco Capital One, custa US$ 3.100 ao ano, mais uma taxa de adesão. Além disso, os concierges frequentemente recebem comissões de hotéis, companhias aéreas e marcas de luxo parceiras.

Knightsbridge Circle

A personalização é o diferencial mais valorizado. “Sabemos os gostos e manias de cada cliente”, afirma Lauren Wilt, CEO da Quintessentially. Segundo ela, a empresa pode antecipar preferências — como preparar um tartar de atum para um fã de sushi — antes mesmo de o cliente chegar ao restaurante. Para o gestor de fundos Silver Kung, que utiliza dois serviços, “a Velocity é como meu Tesla do dia a dia, e a Rosemarie Hospitality é meu Maserati”.

Além de resolver emergências de viagem, esses serviços abriram novas frentes no mercado de luxo, oferecendo experiências únicas e acesso direto a eventos como a Fórmula 1, o US Open e a Semana de Moda de Nova York. A relação entre concierges e marcas exclusivas tornou-se tão próxima que muitos atuam como intermediários discretos entre CEOs e potenciais compradores de alto padrão.

Segundo analistas, o crescimento desse setor reflete a busca por exclusividade e conveniência absoluta. Em um mundo onde tempo é o bem mais escasso, os concierges particulares se tornaram o luxo definitivo — o de nunca precisar ouvir um “não”.

O que faltou dizer?

Num planeta em que milhões enfrentam filas por atendimento básico, insegurança alimentar e falta de tempo para o essencial, a ideia de pagar dezenas de milhares de dólares por alguém que garanta conforto absoluto expõe um abismo difícil de ignorar. O concierge de luxo, vendido como símbolo de eficiência e prestígio, também é o retrato de um mundo que consegue mobilizar inteligência, logística e dedicação extrema para satisfazer caprichos — mas não para suprir carências muito mais urgentes.