
O chilique machista de Juliano Cazarré (que atualmente vive o personagem Alcides na novela Pantanal), virou notícia na última quarta-feira, após uma crítica ter se tornado o motivo de um verdadeiro escarcéu narcisista.
O ator, que vem fazendo uma série de lives de meditação no Instagram dedicadas a São José (risos), se irritou com um de seus seguidores ao ser criticado por dizer que precisou “visitar” sua esposa em Brasília.
Pausa dramática para um detalhe: a esposa acabou de ter um bebê – que certamente não fez sozinha.
“É sempre essa frescura, meu irmão! É sempre essa frescura, por isso que está cheio de homem geleia assim, falar bem dos pais não é falar mal das mães. Burro! (…) Seu moleque! Eu estou em casa com quatro! E vocês estão aí falando: ‘ah, seja livre, gata’! Seja livre, eu não sou machista, não! Pega uma hoje, pega outra amanhã, pega e larga as mulheres tudo para trás, faz filho e foge. Eu sou o cara que está em casa, palhaço! (…) E toda sociedade que fica sem homem afunda. Porque toda sociedade precisa de um equilíbrio entre masculino e feminino” (…) E gente assim, fresca, é o tipo de gente que faz mal para a mulher, que abusa, que maltrata, que não defende, que tira proveito”, bradou a criatura, curiosamente durante uma live de meditação – ou: aquele famigerado furo no personagem.
Perdoem-me a franqueza e o palavreado, mas: quanta merda, hein, gente?
O equilíbrio entre masculino e feminino ao qual o grande meditador se refere – praticamente um buda praticante do “Eu Sou” – não tem nada a ver com gênero como o conhecemos.
Diz respeito ao equilíbrio yin yang, que não vem ao caso, porque o assunto não é esse: a questão – que foi tão mal recebida por Juliano – é a discrepância entre a paternidade e a maternidade, além da ideia estapafúrdia de que o homem é o pilar de sustentação da organização social.
Primeiro, ainda que ele tenha cuidado das quatro crianças (que também são seus filhos, ou seja, não fez mais que a obrigação), estar ao lado da esposa no momento do parto e do puerpério – em vez de fazer live sobre o que não entende – é, ou deveria ser, sua prioridade.
Além de revelar o grandessíssimo machista que ele é, o chilique de Juliano Cazarré abre espaço para uma discussão necessária nesses tempos: as mães solo casadas com os pais de seus filhos.
Aquela mãe que recebe pouca ou nenhuma “ajuda” do companheiro, que é simplesmente “visitada” na maternidade como se o momento do nascimento de um filho não devesse ser tão especial para o pai quanto é para a mãe. Essas mães são ainda mais invisíveis na sociedade do que as mães solo solteiras.
A elas, são impostas cobranças sobre a criação dos filhos enquanto aos pais, que fazem o mínimo, são oferecidos elogios e congratulações.
Um homem que acha que o simples fato de não abandonar os filhos o torna o pai do ano não é exatamente um exemplo de pai, compreendem? É o mesmo homem que acha natural não estar presente no momento do nascimento do filho, porque afinal uma live pra São José é mais importante.
É o mesmo que diz aos seguidores que “a sociedade afunda sem um homem”, enquanto somos nós que parimos e lhes damos a vida, o leite de nossos peitos, a força de nossos corpos, e proteção de nossos colos maternos.
A sociedade afundaria sem uma mulher – a quem é relegado, em pleno século XXI, todas as obrigações relacionadas ao cuidado, não apenas dos filhos, mas, não raro, de homens que se comportam como meninos.
Juliano Cazarré errou rude, e certamente dará explicações em tom de arrependimento caso seus números ou contatos publicitários comecem a cair, mas continuará com a mesma mentalidade arcaica, grosseira e – vamos combinar – meio burra.