Ladies & Gentlemen
Tempo de Copa, e Boss me pergunta qual o maior jogo que vi em um Mundial.
É uma questão ao mesmo tempo fácil e difícil.
Fácil porque o jogo é óbvio: Inglaterra e Brasil no México em 1970.
Difícil porque, apesar de nossa clara superioridade de campeões mundiais, perdemos.
Isso nos levou a enfrentar, na etapa seguinte, os alemães, que tinham esperado quatro anos para se vingar da derrota da final de 1966.
Abrimos contra os alemães 2 a 0, mas você sabe a determinação germânica quando se trata de vingança. Eles empataram um jogo perdido e, na prorrogação, nos eliminaram.
Mas o grande jogo, mesmo, foi contra o Brasil, que se tornaria tricampeão.
Nosso time era soberbo: Bobby Moore na defesa, Bobby Charlton na armação. Banks, o maior goleiro da história, no gol.
Fomos para cima do Brasil. Não tínhamos medo de ninguém, mesmo que o adversário tivesse jogadores como Pelé, Rivelino, Gerson e Jairzinho.
Felix, o goleiro, fez um milagre ao defender uma cabeçada mortífera, desferida a um palmo dele por Francis Lee.
Não foi ele que pegou a bola. Foi a bola que o pegou. Um azar absurdo para nossa seleção.
O juiz contribuiu para o Brasil. O capitão brasileiro fez uma falta assassina em nosso atacante, para revidar uma entrada em Pelé.
O juiz não tê-lo expulsado imediatamente é uma das maiores vergonhas da história dos Mundiais.
Tudo teria mudado ali.
E depois, para culminar uma tarde trágica para nossas cores, Tostão começou a girar em torno de si próprio como se fosse um pião insano.
Alguns mais ingênuos acham que foi intencional, mas a verdade é que ele simplesmente estava desgovernado e iria terminar no chão, de tanto girar, se não passasse a bola para onde desse.
O problema é que a bola foi parar em Pelé. Ele esticou para Jairzinho e o resto todos sabemos.
Ladies & Gentlemen: aquela foi a final antecipada da Copa. Foi o jogo entre os jogos, o duelo entre os duelos.
As duas maiores seleções daquela era se enfrentaram como num desafio de fim de tarde naqueles velhos filmes de faroeste.
Fomos melhores, fomos claramente melhores, mas terminamos derrotados.
Em dez jogos parecidos, teríamos vencido oito e empatado um, pelos meus cálculos. Justo aquele perdemos.
Copa é assim.
Chorei. Garoto que era, chorei pela injustiça que presenciara. Retrospectivamente, entendo que aquele dia foi essencial para minha perda de fé em Deus.
Foi a última vez que derramei lágrimas pelo futebol. A derrota, dias depois, para a Alemanha me doeu muito menos, embora tenha nos custado a eliminação.
Foi o Jogo do Século. Tivemos na mão, e ele nos escapou.
A lembrança da defesa impossível de Felix haveria de me atormentar, depois, por muito tempo.
Os brasileiros se dão conta de que Felix lhes deu, ali, o tricampeonato?
Perguntei isso a Boss. Boss riu e disse que Felix era um “chicken man” — frangueiro, ele me traduziu.
Pobre Felix, pensei. Tão vital e tão injustiçado.
Isto é futebol.
Dedico a ele, Felix, já morto, Boss me contou, este artigo. O tempo me fez reconhecer nele um gigante underrated (subestimado).
Sincerely.
Scott
Tradução: Erika Kazumi Nakamura