O massacre de Manaus e o Coaf. Por Helena Chagas

Atualizado em 29 de maio de 2019 às 17:19
Parentes de detentos bloqueiam entrada de um presídio em Manaus (AM) – Reuters/Sandro Pereira

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POR HELENA CHAGAS

O mundo político parou para discutir uma espécie de sexo dos anjos – a ida do Coaf da pasta da Justiça para a da Economia – e ficou longe da pauta da vida real . Muita energia foi gasta nas idas e vindas do Planalto e nos esforços do ministro Sergio Moro para manter o órgão sob seu chapéu, mas, do ponto de vista técnico, o Coaf vai ficar onde sempre esteve e, a não ser por um arranhão simbólico na imagem de Moro, nada muda tanto assim.

Enquanto falávamos de Coaf, porém, 55 detentos de Manaus acabaram mortos numa briga facções dentro do sistema penitenciário. O desespero de suas famílias, e de outras que não sabiam se seus parentes estavam vivos ou mortos, ocupou no noticiário espaços semelhantes ao lero-lero do Coaf. O distinto público teve oportunidade de ver, quase em sequência, as notícias sobre a chacina de Manaus e as matérias mostrando a discurseira política, as confusões de plenário e o vai-e-vem do Planalto em torno do Coaf.

Não se viu, além das lamentações protocolares, esses mesmos líderes e comandantes do Executivo e do Legislativo – que encontraram tempo para tomar um café e conversar sobre um pacto imaginário – apresentando medidas ou propostas para resolver a situação nos presídios brasileiros. Curiosamente, os temas estão nas mãos dos mesmo personagens – além do presidente da República e dos presidentes da Câmara, do Senado e do STF, o agora ex-futuro chefe do Coaf, o ministro Sérgio Moro.

Problemas como superlotação, corrupção, ação de facções e outras mazelas que tornaram as cadeias sucursais do inferno continuarão, dentro de algumas horas, a ser solenemente ignorados e excluídos das reuniões e do debate político. Alguns detentos foram deslocados para outros presídios, o ministério da Justiça enviou para Manaus a força nacional e a vida segue até o próximo massacre.

Talvez a situação fosse diferente se o meio político empenhasse, na solução para a questão penitenciária, ao menos uma fração do tempo e das energias gastas nas disputas internas do poder e no esforço para mostrar à platéia que estão combatendo a corrupção.