O melhor e o pior de 2014, de acordo com nossos leitores

Atualizado em 31 de dezembro de 2014 às 15:56

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Inspirador
Inspirador

E então estamos fechando a dupla enquete que fizemos sobre 2014.

Numa, queríamos saber quem nossos leitores achavam que tinha sido a personalidade mais notável do ano – a figura mais marcante e inspiradora.

Na outra, como o mundo não é tão perfeito quanto gostaríamos, nossos leitores votaram no que houve de mais lastimável em 2014.

Vamos começar pelo lado positivo.

Para relativa surpresa nossa, a Personalidade do Ano é Pepe Mujica. Não que ele não reúna virtudes para tanto. É que 2014 foi um ano de campanha presidencial. Isso dava a Dilma, reeleita presidente, um presumível favoritismo.

Mas não.

Mujica falou mais alto que Dilma para nossos leitores. Dilma acabou em segundo lugar. Em terceiro, outro estrangeiro: Francisco, o Papa da Igualdade.

Lula, em outra surpresa, dada sua atuação decisiva para a vitória de Dilma, apareceu apenas em quarto lugar.

“Mujica não prega apenas a simplicidade”, disse um leitor. “Ele a pratica.”

Este é, provavelmente, o maior encanto de Mujica. Numa época em que as lideranças da esquerda cedem às delícias caras que o capitalismo é capaz de oferecer, dos vinhos aos jatos, dos automóveis aos hotéis, Mujica mantém-se, sem aparente sacrifício, numa frugalidade inexpugnável.

Um dos símbolos disso, longe de ser o único, é o seu Fusquinha azul.

“Ele é o verdadeiro Bom Velhinho”, notou outro leitor.

Bondoso, mas não mole. Ao se despedir da presidência do Uruguai, depois de eleger o sucessor, Mujica ainda emplacou uma Lei de Mídia para combater monopólios.

Uma frase sua, no processo, será lembrada: “Vou ser claro. Não quero nem a Globo e nem o Clarín aqui.”

Na segunda parte de nossa enquete, incluímos entre o que houve de pior, pelo conjunto da obra, a revista Veja.

E a Veja derrotou adversários fortes, como Bolsonaro e Sheherazade.

A Veja conseguiu tirar a Globo do posto de marca de mídia mais detestada pelos brasileiros.

A maneira como a revista cobriu a campanha eleitoral foi o triunfo da desonestidade manipuladora. O ápice foi uma capa com acusações gravíssimas –  sem nenhuma prova – contra Dilma e Lula pouco antes do segundo turno.

O momento mais patético da Veja no ano veio agora, quando a revista divulgou uma lista que mede, com “critérios objetivos”, o desempenho dos parlamentares brasileiros. Seu nome é “Ranking do Progresso”.

Entre os 74 senadores, Aécio Neves, o candidato pelo qual a revista cometeu infâmias jornalísticas, recebeu nota zero e ficou na última colocação.

Houve uma tentativa de justificativa. A Veja disse que Aécio levou zero por causa da campanha.

Um olhar na relação mostra que o segundo senador mais bem colocado, Lindbergh Farias, também esteve em campanha em 2014, pelo governo do Rio.

Uma consulta à edição anterior do “Ranking do Progresso” mostra um Aécio inoperante, mesmo sem campanha nenhuma. Sua nota, em 2013, numa escala de zero a dez, foi 3,8.

Apesar da importância que a Veja parece dar a seu levantamento sobre os parlamentares, em nenhum momento os dados relativos a Aécio apareceram em qualquer perfil feito pela revista na campanha presidencial.

É digno de nota, também, que Dilma não tenha usado nos debates do segundo turno a avaliação insuspeita de uma revista tão pró-Aécio para dar no senador um choque de realidade a respeito de suas constantes autoproclamações de excelência e competência.

E então ficamos assim.

De um lado, Mujica. De outro, a Veja.

Que o espírito dominante de 2015 esteja mais, bem mais, para o caráter irreprochável de Mujica do que para a malvadeza desonesta da Veja.