O melhor momento de Cid Moreira: quando leu a resposta de Brizola no Jornal Nacional

Atualizado em 3 de outubro de 2024 às 14:26
O jornalista Cid Moreira à frente da bancada do Jornal Nacional, da TV Globo – Foto: Reprodução

Morreu nesta quinta-feira (3) o jornalista, locutor e apresentador Cid Moreira, um dos rostos mais icônicos da televisão brasileira, aos 97 anos. Ele estava internado em um hospital em Petrópolis, na Região Serrana do RJ, e nas últimas semanas tratava de uma pneumonia.

Ex-locutor de rádio que foi alçado à posição de apresentador do maior telejornal do Brasil e ser pago para falar, não pensar, seu momento mais emblemático ocorreu ao ler um direito de resposta de Leonel Brizola contra seu empregador, em 15 de março de 1994.

Após mais de dois anos de batalhas judiciais, o então governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, obteve na Justiça o direito de resposta de três minutos no Jornal Nacional, da TV Globo, no qual havia sido duramente atacado e chamado de senil.

A leitura do texto de Brizola por Cid Moreira tornou-se um momento marcante na garantia dos direitos individuais frente ao poder dos meios de comunicação privados, especialmente da TV Globo.

Mais de dois anos antes, em 6 de fevereiro de 1992, o Jornal Nacional antecipara trechos do editorial “Para entender a fúria de Brizola”, que seria publicado no dia seguinte pelo jornal “O Globo”. O editorial continha ataques sujos ao governador, que havia solicitado ao prefeito da cidade, Marcello Alencar, que suspendesse a exclusividade da TV Globo para a transmissão dos desfiles do Carnaval carioca.

O texto do direito de resposta foi redigido em 1992, com submissão prévia à Justiça, e não poderia conter qualquer compensação de injúria, ou seja, tudo o que constasse nele deveria ser verdadeiro.

Cid Moreira leu, visivelmente constrangido, o texto no qual Brizola fez duras críticas à emissora. O jornalista Nelson de Sá escreveu na época, na Folha de S.Paulo, o seguinte comentário sobre o episódio: “Cid Moreira, a voz do dono, a voz do Grande Irmão, a voz que surgiu do AI-5, voltou-se contra si mesmo. Foi um daqueles momentos simbólicos, um instante da história. Cid Moreira falou, e falou, e falou contra Roberto Marinho. Foram três longos minutos, contra a Globo, no ‘Jornal Nacional’. O redator era Leonel Brizola, que obteve direito de resposta ao ataque que havia recebido do mesmo ‘Jornal Nacional’, que o chamou de senil”.

Trechos da resposta de Leonel Brizola lida por Cid Moreira no Jornal Nacional:

• “Tudo na Globo é tendencioso e manipulado.”
• “Não reconheço na Globo autoridade em matéria de liberdade de imprensa, e basta para isso olhar a sua longa e cordial convivência com os regimes autoritários e com a ditadura que por 20 anos dominou o nosso país.”
• “Quando ela (a emissora) diz que denuncia os maus administradores deveria dizer, sim, que ataca e tenta desmoralizar os homens públicos que não se vergam diante de seu poder.”

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