POR JOÃO PAULO PIMENTA, mestre em Geografia pela Unesp
Eu, se fosse Ciro Gomes, torceria urgentemente por uma vitória de Lula no primeiro turno.
Ciro se tornou refém de sua própria obsessão e, caso haja segundo turno, agora ficará novamente exposto a um grande dilema: assumir uma contundente postura pró-democracia ou mais uma vez se refugiar em Paris, deixando claro para a história que ele, nos momentos cruciais de ameaça às instituições no período pós-ditadura, preferiu se omitir e privilegiar seus interesses políticos pessoais.
Ciro, na ânsia de alcançar aquilo que jamais alcançará enquanto Lula se mantiver ativo no mundo da política institucional, passa a se utilizar dos métodos mais sujos e criticados, inclusive, por ele.
Por meio de um discurso lavajatista (aquele que atribui crimes a pessoas que tiveram julgamentos anulados por irregularidades, faltas de prova etc.) e desonesto (aquele que coloca em pé de igualdade pessoas que flertam com o fascismo e pessoas que sempre mantiveram uma postura institucionalista e democrática), Ciro tenta emplacar seu projeto para 2026, apostando em um Lula arranhado após a eleição e trucidado pela mídia (ou alguém duvida que isso vá acontecer?) durante os próximos quatro anos.
Com o argumento de que Lula estabelece alianças com o que há de pior na história política recente do país, Ciro se esquece de que é justamente nesse meio que ele próprio transitou durante toda sua carreira (vide a constante mudança de partido em sua vida).
Lula, ao contrário, se vê na obrigação de conversar com determinadas lideranças dado o momento excepcional que vivemos em nossa história, principalmente por conta da ameaça às instituições.
Lula briga pela possibilidade de continuar a ter esses “hoje aliados” como “futuros adversários”, e não inimigos. Ciro acusa Lula de querer “exterminá-lo” da vida pública, o chamando até mesmo de nazista.
Primeiramente, Lula faz o jogo político dentro das regras e, se Ciro Gomes, diante de Lula, é um “micróbio político”, aí já é algo a ser tratado no âmbito da psicanálise. Para além disso, alguém tão aclamado por sua inteligência e sagacidade política, deveria se envergonhar de recorrer a teses como “nazismo” para se referir Lula.
Tal tese, na boca de alguém que não tenha uma formação acadêmica tão consistente, principalmente na área do Direito, poderia soar apenas como isso mesmo, uma postura ignorante. Entretanto, diante da solidez de sua formação, a defesa de tal tese evidencia uma postura escancaradamente canalha e de má fé.
Sim, Ciro é um adepto do “vale-tudo” da política, cujos interesses pessoais são colocados até mesmo acima da necessidade de se preservar a própria democracia.
Caso nos encaminhemos para um arriscado segundo turno, Ciro já dobrou o Cabo da Boa Esperança em relação ao respeito à própria carreira. É um caminho sem volta. O melhor que pode acontecer a ele, na atual circunstância, é Lula vencer no primeiro turno.