O melhor que se pode almejar do chefe do MEC é que seja inoperante. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 11 de julho de 2020 às 18:13
Bolsonaro e Milton Ribeiro

Publicado originalmente no Facebook do autor:

Por Luis Felipe Miguel

Que surpresa: o novo ministro da Educação do governo Bolsonaro coleciona falas de estupidez e reacionarismo constrangedores.

“Educação” pelo castigo e pela dor, submissão das mulheres aos homens nas famílias, feminicídio como gesto de amor, universidades como antros de promiscuidade sexual. Sem esquecer da curiosa linha do tempo que faz da filosofia existencialista um fruto da pílula anticoncepcional.

Com aquela voz suave de pastor, Ribeiro é mais um apologista da violência. Tem um doutorado aparentemente legítimo, mas é tão despreparado e tacanho quanto os outros.

Ele fala diretamente às bases do bolsonarismo: nostalgia das “tradições”, com tudo o que nelas há de injusto e nocivo, contra os avanços que nasceram das lutas por igualdade e emancipação.

Um eixo central, está claro, é o reforço das hierarquias de gênero. É a defesa da família patriarcal ou a justificativa do feminicídio. Mesmo o horror com o avanço da “promiscuidade” reveste obviamente a vontade de restaurar a plena vigência da dupla moral sexual, aquela que dá aos homens liberdades que nega às mulheres.

Outro eixo é a negação dos direitos das crianças – que está, convém lembrar, no coração do projeto “Escola sem Partido” (sic). Um dos seus slogans é “meus filhos, minhas regras”, perversa apropriação do lema feminista, visando exatamente afirmar que filhos são propriedade dos pais.

A lei Menino Bernardo, conquista essencial nesse terreno, marca uma posição na lei que está adiante da sociedade. Enfrentou oposição cerrada de parlamentares conservadores – da bancada religiosa, sobretudo pastores da Assembleia de Deus (Marco Feliciano, Ronaldo Fonseca, Paulo Freire, Pastor Frankembergen), mas também da bancada armamentista.

A banalização do espancamento de crianças é tema recorrente nos conteúdos disseminados nas redes da direita. Por exemplo, a pergunta “qual desses psicólogos você consultou na infância?” é seguida de imagens de uma chinela, um cinto, uma colher de pau.

O recado é óbvio: se eu, “cidadão de bem”, fui formado à base de castigo físico, é porque ele é útil e necessário. A ironia desta formulação certamente escapa àqueles que a disseminam.

Ribeiro, portanto, se alinha com as visões mais atrasadas e simplórias da base bolsonarista. Sua visão pedagógica é troglodita. Sua longa vinculação com a gestão do ensino privado não inspira nenhuma esperança. O fato de que essa vinculação é com a Mackenzie, ponta de lança do criacionismo no ensino superior brasileiro, só piora a situação.

O melhor que se pode almejar de sua gestão no MEC é que seja inerte e inoperante. Para as escolas e as universidades, o caminho é coragem e resistência.