O melhor sexo de minha vida. Por Fabio Hernandez

Atualizado em 19 de setembro de 2015 às 5:39

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Juanita estava de amarelo naquela noite quente e estrelada de Cuba. Um vestidinho leve, barato, que parecia um manto de rainha naquele corpo majestosamente moreno de seios miúdos jamais reprimidos por sutiãs.

Juanita achava que se depilar era coisa de mulher burguesa, mas quase não se notavam seus pelos pelo efeito do sol, e também por serem poucos e discretos.

Eu gostava quando ela erguia os braços para fazer coisas como arrumar os cabelos num rabo de cavalo. Vislumbrava por instantes fugidios aqueles quase invisíveis pelos rebeldes sob seus braços fortes de mulher cubana, acostumada desde cedo a trabalhos manuais que mulheres de outras partes costumam delegar a empregadas.

Andávamos pelas areias mornas da praia. Ou melhor, vagabundeávamos. Falávamos sobre tudo e falávamos sobre nada, e nisso gastávamos horas.

Éramos nosso assunto predileto, como costuma ocorrer com amantes em seus primeiros tempos.

Já estava prestes a amanhecer quando nos sentamos na areia para descansar. Ficamos por alguns momentos calados, olhos para o mar verde-azulado e ouvidos concentrados no canto das gaivotas.

Havana dormia, menos nós.

E então Juanita, com aqueles olhos esverdeados que contrastavam tão lindamente com sua pele morena e salgada pelo mar, me endereçou um convite sem palavras, silencioso como os grãos mornos da areia que nos acolhiam para um momento de descanso.

Era como se ela dissesse: “Vem, Fabio. Toma posse do que já é e sempre será teu, agora e pela eternidade.”

No próximo instante, eu já estava dentro de Juanita.

Ela entendeu o significado do olhar que enderecei para a praia deserta.

“Fabio”, ela disse. Não, ela gemeu. Ela gemia palavras, em vez de dizê-las, quando metíamos. “Se aparecer alguém, não para.”

Não era uma recomendação. Era uma ordem, e a última coisa que eu faria naquelas circunstâncias era desobedecer Juanita.

Refreei o impulso de esguichar minha semente nela enquanto não a vi gozar daquele jeito que era só dela, um sorriso de Mona Lisa nos lábios, os olhos fechados e apertados, o ar de infinita satisfação que só uma mulher em pleno orgasmo é capaz de ter.

Ela fez então o que sempre fazia nessas ocasiões. Passou os dedos em sua virilha molhada de minha semente. Levou os dedos primeiro à ponta do nariz arrebitado e depois à boca.

“Adoro seu cheiro de homem, e o seu gosto de macho”, murmurou.

Antes que amanhecesse, e que pessoas aparecessem na praia, tivemos tempo ainda para nos banharmos no mar morno, sob uma lua cheia que iluminava como nunca a beleza morena de Juanita.

Pouco depois, Juanita partiu de Cuba, levada pela possibilidade de enriquecer em Miami.

Durante algum tempo trocamos cartas, mas elas foram se espaçando, e diminuindo na extensão, até desaparecerem.

Ainda agora, quando ouço La Barca, é nela que penso, não com dor, não com amargura, mas com gratidão.

Hoy mi playa se viste de amargura,

Porque tu barca tiene que partir

A cruzar otros mares de locura

(Cuida que no naufrague en tu vivir)

Cuando la luz del sol se esté apagando

Y te sientas cansada de vagar,

Piensa que yo por ti estaré esperando

Hasta que tú decidas regresar.

Tantos anos depois, e tantas mulheres depois, lembro com detalhes este que foi o melhor sexo de minha vida, e tolamente agradeço ao Deus no qual não acredito por um dia ter colocado Juanita no meu caminho.