O mercado está dizendo não a Temer. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 25 de abril de 2016 às 21:08
Quem quer este homem?
Quem quer este homem?

O malabarismo que a grande imprensa vem fazendo para camuflar a reação que o mercado começa a apresentar após a vergonha internacional que se transformou a votação do impeachment na Câmara realça ainda mais a parcialidade e a manipulação gritantes na forma como prestam as informações ao seu público.

As duas grandes pautas econômicas defendidas pela peculiar classe média brasileira para satisfazer os seus anseios – a baixa do preço do dólar para as viagens à Disney e o aumento na cotação das ações para ganharem na bolsa – se recusam a aderir ao “Plano Temer”.

Nesta segunda, 25/04, todos os holofotes da mídia familiar se voltaram para a queda de 0,64% do dólar cotado a R$ 3,5468 como sendo um reflexo direto de um eventual governo do vice-presidente. Só esqueceram de mencionar que na sexta que antecedeu a votação esse mesmo dólar estava cotado a R$ 3,5240.

Já o índice Bovespa sofreu a sua terceira queda consecutiva despencando quase 2%. Mas para isso a explicação é completamente diferente. O cenário externo é o único culpado. A instabilidade política nada influencia nas ações das empresas brasileiras. Tudo muito conveniente.

O fato é que os grandes investidores nacionais e estrangeiros se encontram cada vez mais receosos com o que pode vir a acontecer com a economia do Brasil se realmente atestarmos o quanto nossa democracia é imatura e irresponsável ao aceitarmos que uma quadrilha de bandidos e traidores instale um golpe de Estado.

A repercussão negativa estampada nas capas dos mais importantes jornais do planeta dando conta da desqualificação dos parlamentares que votaram “sim”, da inoperância de nossa Suprema Corte em permitir que um meliante da periculosidade de Eduardo Cunha conduzisse o processo, da postura conspiratória de Michel Temer e do apoio incondicional de uma imprensa que já havia dado todo o suporte à ditadura militar — tudo isso não deixa dúvidas para o mundo inteiro de que se trata unicamente de golpe.

Nem mesmo a política neoliberal, entreguista e recessiva defendida abertamente pelos golpistas e tão afeitas aos senhores do mercado está sendo suficiente para que o grande capital dê o seu aval a um governo ilegítimo.

Como se não bastasse, ainda temos a recente pesquisa Ibope que revela que até para os mais entusiastas do impeachment Temer não só está longe de ser a solução de que precisamos como é um dos grandes responsáveis pelo problema.

Tudo somado, está criada a fórmula perfeita para mergulharmos o país numa depressão econômica digna dos piores anos da era FHC. O arrocho fiscal, o aumento de impostos, o congelamento de salários e o corte abrupto nos benefícios sociais farão com que os avanços históricos que conseguimos na última década sejam completamente perdidos.

Um possível governo Temer agravará a já precária atividade dos agentes econômicos e nos levará à total falta de credibilidade junto às grandes democracias do mundo.

A Câmara dos Deputados nos deu a sua grande contribuição para voltarmos a ser os subalternos de outrora na economia mundial. Caberá agora ao Senado decidir se a nossa vocação eterna é sermos capacho do primeiro mundo ou se continuaremos no caminho onde o Brasil é exclusivamente dos brasileiros.