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O Mistério Bolsonaro. Por Renato Janine Ribeiro

Jair Bolsonaro | Alan Santos/PR

A menos de ano e meio da eleição presidencial, o apoio a Bolsonaro é um mistério. O Brasil é um dos campeões mundiais em mortes pela pandemia. O único país desenvolvido que o ultrapassa é a Itália, e por pouco. Aliás, o próprio ex-ministro Nelson Teich alertou para a possibilidade de haver, aqui, mortes que não foram notificadas. A economia está um desastre, e mesmo antes da covid Paulo Guedes não entregou o desenvolvimento que prometeu. No entanto, Bolsonaro continua com uns 30% de apoio e, com exceção de Ciro Gomes, quase todos os políticos e analistas apostam que estará no segundo turno em 2022. Por quê?

E há mais: mesmo com a vacinação andando devagar, com a economia brasileira pilotada por um inepto, a economia mundial deve crescer em 2002 – e o Brasil deverá exportar mais commodities. Traduzindo: Bolsonaro pode ter muito dinheiro a seu dispor nos meses antes da eleição. Finalmente, ele tem-se mostrado hábil na garantia de maiorias parlamentares para o que lhe interessa, que é basicamente ficar no poder.

Daí, duas grandes perguntas. Como é que um governo que governa tão mal está firme assim? (Pergunta sobre ele completar o mandato atual). E como é que ele pode até mesmo ser reeleito? (Pergunta sobre ele conquistar um segundo mandato). As respostas são diferentes.

Pergunta sobre a estabilidade de Bolsonaro: somam-se o cansaço e decepção do eleitor, com a aliança que o presidente formou. A decepção se entende. Primeiro, a crise econômica se abateu sobre nós desde 2013, consumindo a euforia que Lula havia deixado. Depois, veio uma campanha ininterrupta que atribuía todos os males do Brasil à corrupção. Terceiro, Temer fracassou nas promessas que fez ou que foram feitas em seu nome.

A revolta com os políticos virou uma revolta contra a política. Falar mal dela virou um jeito fácil de entrar nela. Um exemplo, Doria em 2016 para prefeito de SP. Outro, o próprio Bolsonaro, político havia décadas, mas que se dizia e diz não político.

A aliança que Bolsonaro formou: ela foi mudando. Começou com dois superministros, que não poderiam ser demitidos em hipótese alguma, porque seriam os fiadores de Bolsonaro – um deles, Guedes, junto ao grande capital, o outro, Moro, junto à opinião pública. Pois Moro caiu/saiu sem causar nenhum estrondo, e Guedes vai perdendo força.

Mas Bolsonaro continuou com seus apoios tradicionais. O principal deles é uma extrema-direita que finalmente conseguia uma vertebração que nem no regime militar teve, porque naquela época quem mandava eram generais, agora são PMs. A cúpula das Forças Armadas parece ter-se decepcionado um tanto, mas nem por isso se afastou dele. E Bolsonaro adquiriu (uns dizem: alugou) o centrão.

Num contexto em que a oposição não protesta nas ruas, até porque teme o contágio da pandemia (o que os fanáticos do presidente não receiam), isso dá a Bolsonaro densidade para continuar no mandato.

E do outro lado, quais as possibilidades? Lula voltou com tudo, é verdade. Mas a oposição ficou basicamente em torno dele. Os petistas festejam o vazio das candidaturas ditas “de centro” (ou de direita não fascista), mas em quarenta anos o PT não conseguiu formar um único líder que se compare a Lula.

Mesmo a votação de Haddad em 2018, surpreendente com o pouco tempo de campanha e o histórico de hostilidade da mídia contra o PT, se deveu a ser ele o ungido de Lula. Muitos criticaram Haddad por não ter se afastado dele – esquecendo que Lula não era apenas seu mentor, era seu grande eleitor.

A oposição a Bolsonaro está, assim, frágil.

E olhem que nem entrei em outras questões, tipo: 1) Lula conseguirá emplacar o Brasil feliz de novo? – 2) O grande capital e a mídia aceitarão Lula, depois de tudo o que fizeram contra ele? – 3) Como será a campanha propriamente dita, numa época em que a mídia tradicional despencou brutalmente em vendas (e em influência) e ainda não se sabe bem o que podem, ou quanto podem, as redes?

 

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Fernando Miller

Fernando Miller, paulistano, advogado, palmeirense

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