O mistério do Fusca queimado

Atualizado em 27 de outubro de 2014 às 11:44

A sequência de fotos divulgada pelos manifestantes
A sequência de fotos divulgada pelos manifestantes

Uma batalha de versões está sacudindo a internet neste domingo. No centro da discórdia está o fusca incendiado ontem em São Paulo no curso dos protestos contra a Copa.

De um lado, os opositores dos protestos afirmam que os manifestantes atearam fogo propositadamente no carro, em que ia uma família humilde.

O episódio provaria, segundo os adeptos dessa versão, que os manifestantes não estão nem um pouco preocupados com os pobres e querem apenas promover baderna.

De outro lado, estão os próprios manifestantes. Eles afirmam que o fogo foi provocado por imprudência do motorista.

Segundo esta versão – em cujo apoio os manifestantes postaram uma sequência de fotos que circula agora na internet – foram ateadas chamas num colchão colocado no meio da rua, para impedir o tráfego.

O motorista teria arriscado passar. Como se trata de um carro baixo – sempre de acordo com a turma do protesto – o colchão acabou ficando grudado no assoalho do carro.

Num texto que acompanha as fotos, está dito, em maiúsculas: “Nenhum manifestante ateou fogo no carro.” Nesta versão, as pessoas por perto acabaram tirando do Fusca uma mulher e uma criança que estavam no banco de trás.

Em seu blog, seguindo a linha da mídia em geral, Reinaldo Azevedo afirmou que o carro “foi incendiado por vândalos”. Azevedo chamou os manifestantes de “bandidos”. Uma opinião semelhante , em relação ao episódio, foi brandida por alguns simpatizantes do governo Dilma. Disse um deles num tuíte várias vezes reproduzido: “Depois do Fusca queimado com crianças dentro não são mais coxinhas. São bandidos.” A conspiração dos coxinhas se converteu, portanto, numa ação de bandidos.

Também o governador Geraldo Alckmin condenou os “vândalos”, com a ressalva de que eles não conseguiram estragar a festa de aniversário de São Paulo.

Mesmo em esplêndido isolamento, os  “vândalos” fizeram uma conexão entre o Fusca em chamas e o histórico “Atentado da Bolinha de Papel”.

Nele, na campanha de 2010, Serra simulou ter sido atacado por petistas. Chegou a fazer uma tomografia para apontar supostos danos à sua integridade. Verificou-se, depois, que lhe fora arremessada apenas uma bolinha de papel.

Quanto ao mistério do carro em chamas, o mais provável é que prevaleçam, a despeito de possíveis evidências, a opinião de cada qual segundo sua visão de mundo.

Tivessem as partes espírito esportivo, poderiam dizer umas para as outras diante de versões conflitantes para um mesmo fato: “Assim é, se lhe parece.”