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O MPL é a melhor (e única novidade) da política brasileira

Eles trouxeram frescor, mudança e atitude a um ambiente engessado e anacrônico.

O Movimento Passe Livre, que detonou a maior onda de protestos do Brasil, foi visto por muita gente com desconfiança quando surgiu, em meados de junho. Colunistas, se pudessem, os teriam assassinado. Ninguém entendeu as reuniões para decidir cada passo, da marca do café a quem seria o porta-voz; a estrutura “horizontal”; a juventude.

Tudo foi visto com cinismo e arrogância, tanto pela direita como pela esquerda. O MPL tirou o pé do acelerador quando viu que corria risco de ser usado por reacionários e conservadores. Continuou com suas marchas, só que na periferia e em cidades menores. Não parou e não cedeu à tentação de se transformar em mais um grupo desmiolado de pessoas “contra o governo e tudo o que está aí”.

Na passeata que serviu para comemorar a redução da tarifa em São Paulo, seus integrantes foram celebrados pelos moradores dos prédios da Avenida Paulista. Do alto dos edifícios, as pessoas jogavam papel picado e acendiam e apagavam as luzes em homenagem ao grupo.

Foi a noite em que radicais forçaram o PT e outros partidos a abaixar as bandeiras. Só ficou o MPL, com suas palavras de ordem meio fanfarronas e seus integrantes de camiseta preta. Uma enorme demonstração de força, prestígio – e poder.

O MPL é a melhor novidade da política brasileira dos últimos anos exatamente por não obedecer às regras da política tradicional. Seu membro mais visível é a estudante Mayara Vivian, que faz bicos de garçonete e tem uma foto com um copo de cachaça em seu perfil no Facebook. Mayara abriu um discurso na Câmara Municipal de São Paulo assim: “Primeiro, gostaria de dizer que não gosto de políticos. Eu gosto de Ramones”.

O MPL gosta de política e faz política. Não é um bando de ingênuos. Têm sensibilidade social, estão do lado certo. Mas trazem um jeito novo de lidar e exercer o poder, ao qual não estávamos acostumados. Se virarem um partido comum, provavelmente estarão liquidados. Eles abem disso. Está tudo nos discos dos Ramones.

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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Kiko Nogueira

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