O MPL morreu, mas passa bem. Por Donato

Atualizado em 11 de janeiro de 2019 às 9:10
Protesto do MPL em SP no dia 10 de janeiro (FOTOS MAURO DONATO)

2013 é um ano que persegue o Movimento Passe Livre, para o bem e para o mal.

É ótimo saber que a turma ‘apartidária’ da direita não irá nunca mais aparecer nas manifestações e misturar alhos com bugalhos.

Por outro lado, é triste ver parte da esquerda desdenhar de uma pauta legítima e não somar nas ruas contra algo que atinge gravemente o trabalhador e as camadas menos favorecidas.

Tudo por conta de um ano em que, no imaginário popular, foi quando se deu o nascimento e a morte do MPL. Ledo engano.

O movimento nasceu muito antes (em 2006) e mesmo depois da erupção de 2013 nunca saiu das ruas, nunca deixou de protestar a cada novo aumento da passagem.

É lamentável que todo ano a esquerda pergunte ‘cadê o MPL agora?’ O MPL estava lá. Assim como estava lá ontem novamente.

2013 ficou como um paradigma de sucesso para o MPL que não se justifica. Se o movimento não colocar 500 mil pessoas na avenida, é visto como fracasso. Ora, a militância é sempre aquela.

Todo e qualquer movimento social sabe disso. Ganhar adesão de outros movimentos e de populares autônomos é coisa rara. O normal é que só a militância vá.

E o MPL não tem um militância insignificante. Longe disso. Chamar e obter o comparecimento de aproximadamente 10 mil pessoas – meu palpite para ontem já que os organizadores falam em 20 mil e a Polícia Militar fala em 100 –  demonstra isso.

Principalmente com o histórico de repressão violenta da polícia contra aquele movimento (repressão que foi, não por acaso, o estopim para as ‘jornadas de junho’).

Desde a última segunda feira, a tarifa passou de R$4,00 para R$4,30 na capital paulista. Com a justificativa de ‘reduzir o desequilíbrio do sistema’, o aumento foi acima da inflação.

Aliás essa é a grande briga. Mais até do que a exequibilidade da tarifa zero (pauta do MPL), a ganância e injustiça na prática de cobrança precisam ser questionadas e combatidas.

Para quem ganha um salário mínimo que ficou R$ 8,00 abaixo do orçamento previsto e ainda sofre uma tunga dessas no preço da passagem, é um golpe indigesto (já para quem 8 reais não são nada, absolutamente nada, fica difícil imaginar que isso pode significar a impossibilidade total de mobilidade das classes desfavorecidas desde que não seja o traslado casa-trabalho. Mas significa, acredite).

A lucratividade das empresas que atuam no transporte público é uma caixa preta eterna.

Se corrigida apenas pela inflação desde 2004 (quando foi criado o Bilhete Único) até 2018, na ponta do lápis, a passagem na capital paulista hoje deveria custar R$ 3,82.

Por que tamanha diferença? Caro leitor, R$ 4,30 equivale a $ 1 euro. Mesmo que você não seja usuário de transporte público, não acha que tem algo muito errado?

“Mais uma vez o usuário pagará mais caro por um serviço de péssima qualidade e pior, muitos não conseguirão pagar e ficarão sem usar o transporte público. O aumento, muito acima da inflação, coincide com uma época de crise econômica, desemprego, eminente perda de direitos sociais e com o valor do salário mínimo sendo reajustado abaixo do previsto. Enquanto os envolvidos na máfia do transporte são protegidos pelos governantes, a população tem seus bilhetes únicos cancelados a todo momento com a desculpa de evitar fraudes no sistema”, publicou o Movimento Passe Livre.

O objetivo da manifestação de ontem era terminar a marcha na praça do Ciclista, na avenida Paulista. Não foi permitido, mas é para lá que está marcado o início do próximo protesto na quarta-feira, dia 16.

Quem de fato luta contra a desigualdade irá ‘colar’ ou vai continuar no sofá citando teorias conspiratórias de seis anos atrás?

Contra a tarifa