O mundo exalta o índio que o Brasil despreza. Por Moisés Mendes

Atualizado em 5 de agosto de 2020 às 22:41

Publicado no Blog do Moisés Mendes

Aritana Yawalapiti, de 71 anos, morreu vítima da covid-19 em Goiânia, Goiás — Foto: Antônio Carlos Banavita/Reprodução/G1

Apenas a Folha, dos três grandes jornais brasileiros, tem a morte do cacique Aritana na capa. E mesmo assim está lá embaixo, num cantinho do site, como se fosse uma concessão, só para que não reclamem que o jornal não deu nada.

Globo e Estadão esnobaram o cacique. Mas a morte de Aritana Yawalapiti, aos 71 anos, está na capa ou é noticiada com destaque nos principais jornais europeus e americanos. E aparece até em jornais que pouco ou nada noticiam do Brasil durante o ano todo.

O Jornal Nacional deu apenas 19 segundos para a notícia burocrática da morte de Aritana.

O Brasil da pandemia nem sabe quem é Aritana, como não sabia quem era Chico Mendes. Há relatos que podem ser procurados via Google sobre como o Brasil ficou sabendo de Chico Mendes depois de morto, em 1988.

Aritana talvez continue escondido até depois da sua morte, que tem força simbólica dramática em meio à pandemia.

Os jornais estrangeiros (e no Brasil os jornais de resistência, fora das corporações) sabem o que ele significava como líder do Xingu, no contexto de destruição dos povos da floresta.

O coronavírus, uma arma nas mãos do governo e dos fascistas aliados da peste, matou Aritana, um cacique poderoso desde os 19 anos.

Ele será substituído pelo filho, Tapi Yawalapiti. Aritana era considerado um índio brabo. Que Tapi Yawalapiti seja um cacique furioso dos Yawalapitis.