O Museu do Ipiranga desapareceu

Atualizado em 24 de agosto de 2013 às 17:42

O absurdo de fechar uma instituição paulistana para uma reforma de intermináveis nove anos.

museu do ipiranga

A grande maioria dos que nasceram e viveram em São Paulo tem, no seu histórico escolar, pelo menos uma visita ao Museu Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga.  Mas não será o caso da próxima geração, a que agora está entrando no ensino fundamental.

Isso porque o museu, um dos mais antigos do Brasil, inaugurado em 1895, foi fechado para reformas com o prazo de 9 anos — muito provavelmente só será reaberto em 2022, para as comemorações do bicentenário de independência.

Segundo a diretora do Museu, Sheila Walbe Ornstein, a reforma tem sido planejada desde 2008 e compreende expansão das instalações, com a construção de um bloco edificado para abrigar as reservas técnicas e a transferência do Museu de Zoologia, atualmente na Cidade Universitária.

Acontece que a situação piorou. Os diagnósticos feitos em julho constataram problemas no forro, degradação das fachadas e ornamentos, com a presença de umidade, vegetação e fungos, além de infiltração de água da chuva.

A questão, no entanto, é mais grave. Há problemas estruturais no edifício decorrentes da última reforma, realizada em 1940, na qual as soluções adotadas comprometeram as fundações. Ou seja, durante mais de setenta anos, o museu manteve-se com problemas estruturais sem que nada se fizesse — até chegar ao ponto de ter que se tomar uma atitude dramática.

Segundo Sheila, “deverão ser restauradas as fachadas (revestimentos, pinturas e elementos decorativos), os telhados em cobre, as clarabóias, os forros, as esquadrias em madeira, além de ser implementada toda a infra-estrutura de acessibilidade, segurança contra incêndio, instalações elétricas e hidráulicas, dados e voz”, com previsão orçamentária de 21 milhões de reais.

Ainda assim, nove anos parecem ser um absurdo.  “Se considerarmos todo o processo de expansão do Museu e diante da complexidade desta tarefa que envolve também a transferência de acervos, é possível sim trabalhar  com a meta de conclusão de 2022”, diz ela.

A verdade é que não se sabe de nada. Não há prazos e orçamentos consolidados: a meta, segundo Sheila, é concluir os principais diagnósticos até o fim do ano: “estima-se que projetos sejam concluídos no próximo ano quando dependendo do curso das licitações públicas poderá também ocorrer o início das reformas”. Enquanto isso, o Museu, a partir de 3 de agosto, estará fechado para visitação, cuja média diária é de 2 a 3 mil pessoas.

A política relacionada a museus públicos no Brasil nunca foi exemplar — e esse caso não parece contribuir muito para melhorar essa impressão. O Museu do Ipiranga é uma jóia abandonada pelo poder público.Com seu estilo arquitetônico renascentista, tem um acervo de mais de 125 mil artigos — objetos, mobiliários e obras de arte, a maior parte relacionada com a Independência do Brasil e período histórico correspondente. Incluindo o grande quadro do artista Pedro Américo, “Independência ou Morte”, feito em 1888. Um acervo único no Brasil, reconhecido pelo que representa de memória nacional, inclusive com importância acadêmica para alunos de graduação e pós-graduação.

Mas o fechamento do Museu por um prazo absurdo e o descaso com o edifício e o acervo não são o único problema. Há uma certa obtusidade cega em administrar essa questão. Afinal, o Museu do Ipiranga é um cartão postal da cidade e teria um papel importante no fluxo de turismo reservado a São Paulo na época da Copa do Mundo.

Mais do que isso, a política de administração de museu mais empregada no mundo não se restringe unicamente a apresentar um acervo histórico. É importante manter atividades relacionadas ao tema que apresenta, buscando uma participação da população por meio de eventos e exposições temporárias. Longe disso, o Museu do Ipiranga, em vez de atrair visitantes, parece querer mantê-los afastados.