O musical “O Rei Leão” é a peça do ano

Atualizado em 24 de outubro de 2014 às 16:14
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a alegoria entalhada em madeira que representa os leões é uma das grandes genialidades desta peça

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O filme O Rei Leão é um dos clássicos que a Walt Disney Pictures produziu nos anos 90. Lançado em 1994, fez parte da leva mais rica dos filmes musicais do estúdio, e é, para muitos, o melhor dentre os filmes dessa leva.

É a história de Simbah, um jovem leão que se sente culpado pela morte do pai, o rei Mufasa, e por isso não toma seu lugar de direito no trono – ele foge e se torna amigo do suricato Timão e do javali Pumba, que o ensinam a não comer zebras ou antílopes como seu instinto manda, mas insetos.

Em 1997, a história chegou ao teatro, curiosamente estreando em Minneapolis, pequena cidade no norte dos EUA, e não na Broadway de Nova Iorque ou West End de Londres, onde a vasta maioria dos musicais são criados.

No Brasil, sua estreia se deu este ano no Teatro Renault (ex Teatro Abril), que se instalou no histórico edifício do Teatro Paramount em São Paulo (o mesmo que, segundo uma placa que fica exposta na parede, teve a primeira projeção de cinema do Brasil).

A diretora Julie Taymor, uma das grandes mestras dos musicais, concebeu a ideia por trás dessa montagem. Ela basicamente dividiu os animais em três grupos: os naturais em tamanho, movimento e representação (elefantes, leopardos, girafas…), os “cartunizados” (Timão, Pumba, as hienas…) e os, digamos, alegóricos (os leões).

Os alegóricos são a representação não-literal, feita por meio de alegoria – os leões não usam fantasias aos moldes de “O Mágico De Oz”. A alegoria que os “transforma” em leões é uma coroa que por vezes se torna máscara, com a cara de um leão esculpida em madeira. É, digamos, uma representação simbólica, e não literal, do animal.

Grande parte dos animais entram no teatro pela plateia. Um elefante de tamanho natural passa ao lado do espectador, com um elefantinho segurando seu rabo. O sol nasce e o “Ciclo da Vida” começa a tocar, até pouco tempo interpretado pela sul-africana Phindile Mkhize, brilhante atriz e cantora vencedora deste prêmio na categoria “criadores” em “artes performáticas”.

E alguém aí notou que o “Ciclo Sem Fim”, do filme original, virou “Ciclo Da Vida”? As músicas ganharam novas versões, e quem as fez foi Gilberto Gil. A razão da mudança é que há, na peça, mais músicas do que no filme. Precisar-se-ia de alguém para fazer as versões em português. Uma vez que esta pessoa já teria esse trabalho, ela já aproveitou e fez todo o resto – afinal, o musical tem uma limitação a menos do que o filme na hora de traduzir: na animação, o movimento da boca já está pré estabelecido, então tudo tem que ser criado de forma que caiba no tempo deste movimento. Você não pode fazer uma frase mais longa, por exemplo, porque vai parecer que ela vem do além. Mas no teatro este problema não existe, então a ideia das letras pode ser muito mais precisa e acordar muito mais com a historia. “O que eu quero mais é ser rei” nunca foi verdade para o leãozinho, mas era o possível dentro das limitações de tradução do filme – e se tornou “eu mal posso esperar pra ser rei” no musical.

As músicas, escritas originalmente por Elton John e Tim Rice ganharam companhia de canções de Lebo M, Mark Mancina e Jay Rifkin. Uma das mais belas não é do O Rei Leão original, mas de sua continuação, e é, sozinha, um bom motivo para assistir o espetáculo.

Artisticamente, a ausência de Phindile Mkhize é uma grande perda para a peça. É claro que o show sozinho é uma atração fantástica, e a cantora que interpretava a babuína Rafiki (sim, na peça é uma mulher) certamente tem uma substituta competente. Mas Phindile, que inclusive cantou nas versões originais do filme, era mais uma das atrações individuais do show. (Há informações de boa fonte da produção de que a atriz deixou o evento por problemas de relacionamento, o que não foi confirmado pela assessoria de imprensa.)

A Time For Fun foi quem trouxe o espetáculo ao Brasil. Grande parte dos produtores de musicais do país compram direitos autorais e fazem montagens próprias, mas a T4F tem por hábito comprar a franquia completa – então todo objeto de cena, todo figurino, e até a direção vem de fora. A equipe de luz, por exemplo, que faz a mágica do aparecimento do fantasma de Mufasa, era da peça original, e trabalhou aqui por alguns meses junto a profissionais brasileiros. Da mesma forma, todos – inclusive a própria Julie Taymor e parte do elenco.

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Emir Ruivo é músico e produtor formado em Projeto Para Indústria Fonográfica na Point Blank London. Produziu algumas dezenas de álbuns e algumas centenas de singles. Com sua banda, Aurélios, possui dois álbuns lançados pela gravadora Atração. Seu último trabalho pode ser visto no seguinte endereço: http://www.youtube.com/watch?v=dFjmeJKiaWQ