O nhenhenhém das privatizações

Atualizado em 13 de junho de 2013 às 17:51
Aeroporto de Brasília, um dos que serão privatizados

 

Vejo de longe, do frio siberiano deste início de fevereiro londrino, o debate no Brasil por conta dos três aeroportos privatizados na gestão do PT.

É, como diria minha filha Camila, uma pataquada.

Privatização não é pecado. No mundo ideal, o Estado cuidaria das coisas essenciais para a sociedade – educação, segurança e saúde. E arbitraria, com sabedoria e isenção confucionas, o mercado – que entregue a si mesmo dá no que deu, como se viu nas últimas três décadas de brutal concentração de renda. A “Mão Invisível”, como Adam Smith definia o mercado, pode ser predadora quando não regulada. Quem chegou mais próximo do ideal foram os países escandinavos. Impostos altos, sobretudo para os ricos, foram o preço que os escandinavos decidiram pagar para ter uma sociedade harmoniosa.

São cínicas ou obtusas as críticas à privatização dos aeroportos, mas é impossível negar que o PT está bebendo agora o veneno que ele próprio criou.

A satanização da palavra “privatização” foi obra exatamente do PT. Mais tarde, a maldição receberia um empurrão vigoroso do jornalista Elio Gaspari quando ele cunhou e usou à exaustão a expressão “privataria”. Influente como é, Gaspari foi imitado por muitos jornalistas e, lamentavelmente, privataria se transformou num quase sinônimo de privatização.

Um Estado que cuide de tudo não cuida de nada. Básico. Ponto.

Como o Estado brasileiro, sobretudo na gestão do general Ernesto Geisel, avançou sobre tudo até se tornar o País do Brás, por força do ultranacionalismo dominante, desinflá-lo foi vital para que o Brasil pudesse crescer. Você só desinfla um país ultraestatizado com privatizações. Com todos os erros que possa ter havido no varejo, no atacado a privatização foi um grande feito do governo FHC, tão relevante quanto o fim da superinflação.

O resto, o nhenhenhém em torno de privatizações passadas e estas agora, é pataquada, uma imensa pataquada.