São dias difíceis para a Rede Globo.
Com o golpismo cada vez mais óbvio, o boicote crescente à emissora já se reflete não só pela queda de audiência, mas de maneiras muito mais incisivas: cartazes com os dizeres “Globo golpista” ou gritos de “abaixo à Rede Globo” em transmissões ao vivo tem deixado apresentadores entupidos em frente às câmeras, gagos e apáticos diante da antes inacreditável queda do império global.
Não bastassem as críticas do povo, os próprios empregados têm se manifestado diante da parcialidade e do golpismo global.
Ontem, particularmente, foi um dia ainda mais difícil.
Anna Muylaert, diretora do aclamado “Que Horas Ela Volta”, discursou corajosamente ao receber o prêmio O Globo de Cinema:
“Quero dedicar esse prêmio às Jéssicas que estão hoje na universidade e a algumas pessoas que eu acredito que têm muito a ver com isso. Entendo essas pessoas como pai e mãe das Jéssicas. Não no filme, mas na vida real: o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff.”
Quando se governava para os ricos, Jéssica – a menina pobre que entrou na universidade pública em que o filho do patrão não conseguiu entrar – era só um personagem. Uma utopia, como bem disse Anna, apenas um produto inalcançável do Brasil que esperávamos.
Com mais de sete milhões de jovens na Universidade, porém, esse novo Brasil se revela – e não é de hoje – majestosamente sob os nossos olhos. As Jéssicas existem e não se calarão.
E todos aqueles que se compreendem como “Jéssicas” sentiram-se representadas pela fala de Anna. Aqueles que – como eu, aliás – fazem parte da primeira geração de suas famílias a entrar para a universidade, aqueles que já não precisam se conformar com sub-empregos, os negros que agora têm condições de se levantarem contra o racismo, os pobres que se libertaram das amarras do discurso meritocrático e tiveram, graças a programas como o ProUni, a única coisa de que precisavam: oportunidade.
A Globo não noticiou o discurso de Anna, mas a autossuficiência midiática da internet faz com que essa notícia chegue como um tiro de misericórdia: ninguém se cala diante do poder, agora em queda, da emissora, nem mesmo os seus empregados, nem mesmo os cineastas que eles premiam.
Anna Muylaert nos presentou com a constatação antes pessoal e agora coletiva e notória: Somos Jéssicas e somos filhos de um novo Brasil, quer queira a Globo, quer não.