Um perfil do novo presidente chinês

Atualizado em 15 de novembro de 2012 às 10:09

Na troca de comando na China, a prioridade é evitar um quadro de injustiça social

A missa de Xi é criar uma "sociedade harmoniosa"

E eis que a China passa por uma mudança no poder que acontece a cada dez anos. Tudo se dá no âmbito do Partido Comunista Chinês, que inventou uma espécie de marxismo-confucionismo-capitalismo extraordinariamente bem sucedido.

Nele, o Estado comanda a economia, mas, ao contrário da ortodoxia marxista, os negócios privados são não apenas aceitos mas estimulados. Por baixo de tudo, pairam os ideais de Confúcio, o grande filósofo que governa as mentes chinesas há 2500 anos. O tripé do confucionismo é: dê educação de alta qualidade aos jovens, seja leal aos amigos e cuide bem dos velhos. Com essa receita, a China nos próximos dez anos vai ultrapassar os Estados Unidos como maior economia.

É uma troca de gerações no órgão supremo de chefia na China – o Comitê Central do Politburo, composto por nove integrantes. É possível que este número seja reduzido para sete.

O Obama chinês, segundo tudo indica, será Xi Jinping, 59 anos, casado com uma famosa cantora de ópera com quem tem uma filha que, de acordo com relatos, estuda em Harvard.

Xi como que nasceu no Partido Comunista Chinês. Seu pai foi um personagem ilustre do partido e da história contemporânea chinesa. Formado em engenharia química, Xi – na China o sobrenome vem primeiro —  entrou no partido em 1974, aos 21 anos.

Ocupou vários cargos, e se destacou particularmente como governador de Xangai, para onde foi deslocado em 2007 para enfrentar um escândalo de corrupção. É muito citada uma frase sua dirigida a seus liderados: “Apoiem-se em seus cônjuges, em seus parentes, em seus amigos e em seus funcionários, e jurem jamais exercer o poder para ganhos pessoais”. Isto é Confúcio em estado puro.

Como é comum na China, quase nada se conhece da vida pessoal de Xi. Sabe-se que ele gosta de basquete, como Obama, e de filmes de guerra de Hollywood.

Sua agenda poderia servir de modelo, com pequenos ajustes e adaptações, para o Brasil: criar uma “sociedade harmoniosa”, uma expressão repetida frequentemente hoje por líderes chineses.

Isso significa evitar que, em seu crescimento assombroso, a China se converta num país iníquo, em que haja uma pequena elite muito rica e uma massa enorme de pobres. Como distribuir melhor a renda está no topo das prioridades do próximo governo chinês.

Os chineses sabem que nada é mais deletério para a estabilidade de um país do que a desigualdade social em grande escala. Os crimes aumentam, os protestos se multiplicam, a insatisfação floresce etc.

“Sociedades harmoniosas” não funcionam quando 1% vive na opulência e 99% dividem os restos. A França do final do século 18, para ficar no caso clássico, era assim, e a cabeça do rei terminou num balde, exposta à turba.

Criar uma “sociedade harmoniosa” é um conceito que deveria também estar arraigado entre os líderes políticos brasileiros, e deveria ser uma bandeira brandida energicamente pela mídia em nome do interesse público.

Mas, lamentavelmente, “sociedade harmoniosa” é uma expressão rara e cara entre os políticos nacionais, e a mídia — que viu calada se erguer uma sociedade extremamente desarmoniosa — se mantém mais calada ainda, preocupada muito mais com seus próprios interesses econômicos do que com os do país.

Este texto foi publicado no Diário do Centro do Mundo em 08 de novembro de 2012.