O País afunda e o presidente de férias. E daí? Por Gilvandro Filho

Atualizado em 22 de dezembro de 2020 às 11:23
Numa praia de Santa Catarina, o presidente curte férias, faz política e provoca aglomeração. Foto da Internet

Originalmente publicado em JORNALISTAS PELA DEMOCRACIA 

Por Gilvandro Filho

Este senhor está de férias. Independentemente do caos que toma conta do país que ele finge governar, com mais de 187 mil mortes por uma tragédia sanitária da qual a sua responsabilidade é indiscutível e monstruosa.  Este senhor que nega a pandemia da Covid-19 que devasta boa parte da Humanidade, está curtindo a vida adoidada, na bucólica e aprazível praia de São Francisco do Sul, no litoral de Santa Catarina. E daí? O que ele tem a ver isso? Não é coveiro…

Este senhor que ataca a vacina colocando-a como um mal causado pela ideologia – de esquerda, claro! – é o mesmo que fez o País gastar o que tinha e o que não tinha para garantir estoque de cloroquina, sabe-se lá com que propósitos; morais, financeiros, ideológicos ou de compadrio, menos médicos ou científicos. Ele que já avisou que não toma vacina e fez de tudo para boicotar a imunização, a ponto de não ter, até agora, um programa minimamente crível para combater o mal. Quem diz é o Tribunal de Contas da União (TCU).

Este senhor que chama de “marica” e de “bundão” quem teme o Corona vírus e a Covid-19 é exatamente o mesmo que, nesse instante, se esbalda na praia, provoca aglomerações, abraça crianças indefesas e vulneráveis que, por sua vez, levam aos seus idosos – pais, mães, avôs e avós – a tragédia sanitária em forma de contaminação. E o que é que tem? Para ele, vale a liberdade de ir e vir, a vida não é nada…

Este senhor está de férias com dinheiro público, ao contrário dos que têm a desventura de tê-lo como mandatário. Os que se desmantelaram ao confiar num abono emergencial que, como um sonho, durou pouco, três meses; teve mais 3 com a grana pela metade e depois virou um pesadelo. Mais de 14% dos brasileiros estão desempregados. Muitos recebiam o auxílio e 36% desses tinham o dinheiro como única renda. O presente de Natal que o presidente e sua equipe econômica deram a esse universo de desesperados foi a perspectiva de um ano novo sem auxílio, sem dinheiro, sem comida. Sem praia, claro.

Este senhor hoje em agradáveis férias, em meio ao tumulto geral, é aquele que reúne em torno de si uma equipe que supera o inacreditável. Que tem um acusado de crime ambiental no Meio Ambiente; uma criatura de descrédito planetário nas Relações; um militar (não médico) que fica tão à vontade na gestão da Saúde quanto um elefante de olhos vendados em uma loja de louças; um ministro da Justiça que age como advogado do chefe; um ministro da Educação que… (e tem ministro da Educação?); um ministro do Turismo que desafina, menos que sua sanfona, na gestão, a ponto de defender réveillon para “até 300 pessoas” – pandemia? Que pandemia?

O senhor que está de férias e se esbalda numa temporada de pesca  é aquele que não preside o Brasil, apenas finge. E o faz baseado nos votos que recebeu de gente que pensa como ele, que nega a ciência, que cultua as armas, que bajula os Estados Unidos, que clama por ditadura, que não está nem aí para o próximo, muito menos para o pobre, e que tem ódio e preconceito como sentimentos que mais lhes tocam o coração.

Esse caldo cultural alimentado por fakenews gerou um governo amalucado apoiado por malucos completos, onde o núcleo do poder não está no Planalto, mas em casa, na família. Mandam e desmandam no País os filhos dele, garotos espertos, envolvidos com amigos suspeitos, lobistas da indústria de armas, peritos em rachadinhas e pródigos em comprar imóveis com dinheiro vivo – não pergunte como.

Este senhor, ao contrário de pode fazer praticamente todo o País, goza de férias. E já não estava, há quase dois anos?