O panfleto racista da PM explica por que ela mata três vezes mais negros que brancos. Por Sacramento

Atualizado em 15 de agosto de 2015 às 9:15

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O folder da Polícia Militar de São Paulo em que o desenho de um homem negro simboliza um criminoso não pode ser considerado um caso isolado de racismo diante da proporção entre o número de negros e brancos mortos em ação policial. Segundo estudo da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), a taxa de negros mortos pela PM de SP é três vezes maior que a de brancos.

A pesquisa “Filtragem racial na seleção policial de suspeitos: segurança pública e relações raciais” analisou informações das Polícias Militares do Distrito Federal, Minas Gerais, Rio de Janeiro e de São Paulo. Neste estado, o índice de mortes em ação policial em um grupo de 100 mil habitantes é de 1,4 negros para 0,5 brancos, apesar do percentual dos autodeclarados negros ser menos da metade da população.

Outro estudo, do professor e oficial da PM de Pernambuco Geová da S. Barros, constatou que 65,03% dos policiais entrevistados percebem que os pretos e pardos são priorizados nas abordagens.

Esses dados revelam que a tendência a associar negros a criminosos não está restrita ao panfleto de gosto e eficácia duvidosos distribuído em Diadema. Inclusive, um documento revelado em 2013 orientava os militares de serviço no bairro Taquaral, região nobre de Campinas, a focar as abordagens “especialmente a indivíduos de cor parda e negra com idade aparentemente de 18 a 25 anos”.

Na época em que trabalhei na assessoria de comunicação da Secretaria de Segurança Pública do Espírito Santo vi inúmeros boletins de ocorrências com relatos de abordagens bem sucedidas graças ao chamado “tirocínio policial”, que pode ser definido como um olhar mais apurado do agente conquistado ao longo dos anos de trabalho nas ruas, algo como um “faro” ou “tino policial”.

É um critério preciso como os utilizados pelos jurados das escolas de samba. Pode levar a apreensões e prisões, mas também origina abordagens equivocadas que provocam desde situações constrangedoras até a morte de inocentes.

Por ano, em média, acontecem no Brasil 30 mil homicídios de jovens com idades entre 15 e 29 anos, dos quais a maioria, 77%, são negros. Dentro desse percentual, certamente há vítimas de forças policiais ou agentes de segurança cujas atuações são influenciadas por preconceitos diversos, dos quais um dos mais comuns é o que associa a criminalidade à pele negra.

Se em vez do tirocínio as instituições de segurança pública privilegiassem o raciocínio, estas estatísticas seriam aproveitadas para a implementação de ações de combate à criminalidade que não produzam injustiças raciais e patacoadas como o impresso de Diadema.